Procuradoria quer "esclarecimentos" de deputados da RENAMO
Lusa
7 de janeiro de 2020
A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique notificou, entre outros, José Manteigas e António Muchanga, deputados da RENAMO, para "esclarecimentos".
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"Recebi, através da presidência da Assembleia da República, uma notificação, da PGR, cujas motivações desconheço", declarou à agência Lusa José Manteigas, que é também porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Manteigas adiantou que a notificação refere que a comparência na PGR destina-se a esclarecimentos, mas não especifica o objetivo da audição.
António Muchanga, deputado à Assembleia da República e antigo porta-voz da RENAMO, disse à Lusa que também foi notificado pela PGR, não conhecendo as razões.
"Fui informado de uma notificação que me é dirigida pela PGR, mas ainda não fui à Assembleia da República buscar o documento", referiu António Muchanga.
Abraço da paz em Maputo
01:25
Mais notificações
Na segunda-feira (06.01), o antigo secretário-geral da RENAMO e também deputado, Manuel Bissopo, indicou à Lusa ter sido notificado pela PGR, desconhecendo os motivos da convocatória.
"Recebi, através da Assembleia [da República], uma notificação para uma audiência no dia 08 [de janeiro] às 14:30 [menos duas em Lisboa]", disse Manuel Bissopo.
No documento, a que a Lusa teve acesso, justifica-se que a notificação de Manuel Bissopo está inserida nos autos de instrução preparatória registada sob o número 1621/2019, sem, no entanto, explicar os motivos que estão na origem da audição.
"Também não sei. Só vejo que tenho de ser ouvido, mas a linguagem que está ali não consigo descodificar", afirmou o deputado, acrescentando que se encontrava na cidade da Beira, centro do país, e sem condições para se deslocar à capital, mas que tudo fará para comparecer.
A comunicação social moçambicana dá conta de que a PGR notificou igualmente a chefe da bancada da RENAMO, Ivone Soares, e Elias Dhlakama, irmão do falecido líder do partido Afonso Dhlakama para audições.
A Lusa não conseguiu ouvir Ivone Soares e Elias Dhlakama sobre o assunto.
Todos os cinco quadros da RENAMO notificados pela PGR foram acusados no ano passado de estarem envolvidos no recrutamento de jovens para a autodenominada "Junta Militar" da RENAMO, um grupo dissidente da guerrilha do principal partido da oposição, ao qual a polícia atribui a autoria dos ataques armados no centro e norte de Moçambique.
A acusação foi feita por um grupo de seis jovens supostamente recrutados com o apoio dos cinco quadros do partido, em declarações à comunicação social, no comando da polícia da província da Zambézia, centro de Moçambique.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.