Já são pelo menos 40 mil hectares de matas destruídas desde 2015, na província da Zambézia, segundo ambientalistas. Governo local reconhece problema, mas não apresenta soluções.
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Pelo menos 40 mil hectares de florestas já foram destruídos desde 2015 na província da Zambézia, no centro de Moçambique. Esta destruição está diretamente relacionada à produção de carvão vegetal, que é a principal fonte de renda de muitas famílias da região, segundo apontam ambientalistas, que alertam para a necessidade de uma nova atividade económica nas comunidades. O governo local reconhece o problema, mas não avança nenhuma medida para a preservação do ambiente.
Nos distritos de Namacurra e Nicoadala, a produção de carvão vegetal é uma alternativa rentável para a maioria dos jovens e adultos que estão desempregados. No entanto, a maioria desconhece os riscos ambientais causados pelo corte das árvores.
O jovem Paulo Junqueiro, de 25 anos, vive com a família em Nicoadala. Para sustentar os cinco filhos, ele produz carvão e o transporta numa bicicleta até a cidade de Quelimane, numa distância de 45 quilómetros.
"Não há trabalho"
Ele explica como funciona a produção do carvão: "Abatemos as árvores e esperamos uma semana para os troncos secarem um pouco. Em seguida, colocamos os troncos numa fogueira durante cinco dias e assim temos o para o carvão pronto para ser comercializado".
Paulo diz que já está acostumado com a atividade e que na região não há outro trabalho que possa fazer para ganhar dinheiro, senão a produção de carvão a partir das árvores que abate.
"Vivo de carvão, não tenho emprego. E se o Governo proibir o que estamos a fazer, não temos como sobreviver", afirma o jovem produtor de carvão.
Além de ser uma alternativa rentável para os desempregados, o carvão vegetal e a lenha são utilizados pela população para cozinhar. O fogão a gás, segundo as comunidades, custa caro e não é a realidade da maioria das famílias da região.
É preciso uma alternativa
O ambientalista Bob Gumbe, da rede de organizações para a proteção do ambiente, mostra-se preocupado com o abate acelerado das árvores pelos produtores de carvão. Ele defende que a produção do carvão com base nas árvores abatidas seja proibida.
De acordo com Gumbe, é preciso alternativas para evitar que as florestas sejam destruídas. "Existem outras atividades que os produtores de carvão podem dedicar-se para conseguirem viver o dia a dia. E isso não vai criar embaraços aos cidadãos, porque poderão arranjar outros meios para as suas cozinhas", considera.
Mas a proibição da produção do carvão vegetal não é um tema que agrada a população local. Argentina Bernardo, uma compradora do carvão em saco, diz que não tem condições de ter um fogão a gás em casa: "Vamos cozinhar com o quê? Somos pobres, não vamos conseguir comprar fogões a gás", lamenta.
27.04 Carvão / Zambézia (neu) - MP3-Mono
A DW África também entrevistou revendedoras de carvão no mercado do Sococo, em Quelimane. Uma delas, Olga Ernesto, afirmou que depende desta atividade. "Vendemos carvão e conseguirmos suportar as despesas da casa. Mesmo que o Governo proíba, não há como", diz a comerciante.
Governo local reconhece destruição
A Direção Provincial da Agricultura da Zambézia reconhece que a destruição de florestas na província já está numa fase avançada em muitas áreas. A informação foi avançada pelo chefe do departamento de florestas, Eugénio Manhiça, que, no entanto, não gravou a entrevista por falta de autorização superior.
Segundo ele, há oito meses era possível ver pequenas árvores na mata, mas que atualmente tudo desapareceu devido à ação dos produtores de carvão. As autoridades governamentais apontam ainda as florestas dos distritos de Mocuba, Maganja da Costa, Morrumbala como as mais destruídas na Zambézia.
Os ciclistas do carvão de Sofala
Produzem-se diariamente mais de 15 toneladas de carvão vegetal em Sofala. Este é transportado de bicicleta para os clientes, percorrendo longas distâncias. O abate descontrolado de madeira está a causar desertificação.
Foto: Gerald Henzinger
Um ciclista de carvão
De distâncias que perfazem até cem quilómetros é transportado carvão de madeira, do interior, para segunda maior cidade moçambicana, a Beira. Este ciclista transporta cerca de 120 quilos de carvão que poderá vender por 650 Meticais (20 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
A caminho
Os cerca de meio milhão de habitantes da Beira queimam diariamente 15 toneladas de carvão de madeira. O carvão vegetal é produzido no interior da província de Sofala e transportado de bicicleta até os clientes, o que representa um enorme esforço físico.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas sobrecarregadas
Normalmente as bicicletas não oferecem lugar para mais de três sacos, se se quiser pedalar. Este transportador colocou seis sacos, ou seja cerca de 300 quilos de carvão, e empurra a bicicleta por detrás, guiando-a com duas cordas amarradas ao volante.
Foto: Gerald Henzinger
Pequenas reparações
As bicicletas usadas em Moçambique vêm habitualmente da Índia e têm uma qualidade duvidosa. Sob o peso do carvão as varetas das rodas partem com facilidade. As distâncias são muitas vezes tão grandes que dificilmente se fazem num dia, os ciclistas dormem por isso na berma da estrada.
Foto: Gerald Henzinger
Paisagem devastada
Não existe um verdadeiro controlo do desmatamento. No interior da Beira já quase não existem árvores. Quase todas elas foram abatidas e transformadas em carvão vegetal. O Governo, em colaboração com as autarquias, tenta travar a destruição ambiental. Agora cada aldeia tem uma cooperativa que distribui concessões aos produtores.
Foto: Gerald Henzinger
Desmatamento avança
Poucos produtores respeitam no entanto as normas. A erosão dos solos e a desertificação são as consequências do abate descontrolado.Torna-se cada vez mais difícil obter madeira para a produção. Não apenas devido aos pequenos produtores do negócio do carvão. Grandes empresas nacionais e internacionais, sobretudo chinesas, derrubam árvores e exportam os troncos.
Foto: Gerald Henzinger
Padre Emílio em Chissunguwe
O padre brasileiro Emílio Moreira defende os interesses dos produtores de carvão vegetal. A sua paróquia abrange as comunidades de Chissunguwe, Njangulo, Nhangau e Casa Partida. Estas comunidades situam-se entre 30 a 40 quilómetros da Beira. A imagem mostra uma visita do sacerdote à comunidade de Chissunguwe, na qual ele procura introduzir a plantação de legumes como alternativa ao carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Lenha para carvão
Em lugares como Chissunguwe produz-se o carvão utilizado na Beira. Este monte de lenha arde já há alguns dias e deverá produzir três a quatro sacos de carvão, pesando 50 quilos. A lenha é recolhida a grande distância porque em Chissunguwe há anos que deixou de existir.
Foto: Gerald Henzinger
Nando - Produtor de carvão
Na localidade vizinha Njangulo ainda existe um pouco de floresta. Ali Nando produz o seu carvão vegetal. Desta pilha de lenha poderão resultar cerca de dez sacos de carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha ardidas
Estas pilhas já arderam na totalidade e o proprietário aperta o último saco de carvão, que de imediato transportará de bicicleta para a Beira. A capital da província de Sofala é a maior cidade do centro de Moçambique e o maior mercado regional para o carvão vegetal.
Foto: Gerald Henzinger
A caminho dos clientes
Fontes de energia alternativas como gás ou electricidade não são acessíveis à maioria dos moçambicanos e, por isso, os produtores de carvão continuam a ter muita procura. Botijas de gás para cozinhar têm de ser importadas da África do Sul, isto apesar de Moçambique exportar gás para o país vizinho.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha nas serrarias chinesas
Desde o escândalo em torno da exportação de troncos inteiros por empresas chinesas, as mesmas começaram a trabalhar a matéria-prima em Moçambique. Desta forma, podem continuar a abater árvores e a exportar madeira. Os restos das serrarias são aproveitados pelos locais para a produção de carvão.