Produção do cacau no Gana não beneficia os pequenos agricultores
28 de junho de 2011Como segundo maior produtor do cacau a nível mundial, no Gana 40% das receitas de exportação dependem desta matéria prima. Mas os pequenos agricultores que produzem o cacau sobrevivem com grandes dificuldades. Uma situação que o chamado comércio justo, ou "fair trade", pretende alterar rapidamente.
Bayerebon é uma aldeia como tantas outras na região da etnia “ashante” no Gana. As galinhas debicam o solo diante das cubatas e por todo o lado avistam-se grãos de cacau a secar ao sol. Estes representam o principal rendimento dos habitantes da aldeia. Mas há uma diferença: ao contrário de outras aldeias, a escola de Bayerebon é um edifício novo. Ela é uma consequência do movimento "comércio justo". Ou seja, os produtores recebem um preço mínimo e adequado pelo cacau, que é sempre superior àquele no mercado mundial. Além disso, recebem um bónus de dez por cento sobre o preço do cacau, destinado a projetos que beneficiem toda a comunidade, como explica Boachie Sampson, o diretor da escola de Bayerebon...
O bónus do comércio justo (fair trade) beneficia a aldeia
“O comércio justo é uma enorme ajuda”, diz Boachie Sampson, que salienta o quanto melhorou o ensino na escola. “Foram construídos dois edifícios especialmente para as ciências naturais e para a disciplina de inglês. E recebemos material escolar”, conclui.
O bónus do comércio justo chegou à aldeia por via da maior cooperativa de cacau do Gana, a Kuapa Kokoo. O diretor geral da cooperativa com mais de 60 mil sócios, Immanuel Kwabena Arthur, diz que há condições que devem ser preenchidas para obter o certificado “fair trade”, incluindo métodos de produção que respeitem o meio-ambiente e condições de trabalho aceitáveis: “Para que sejam cumpridos os critérios do comércio justo, os agricultores controlam-se mutuamente”, diz o diretor geral para acrescentar “ mas a cooperativa também tem empregados encarregados de controlar a produção” .
Transparencia e princípios democráticos norteiam a cooperativa
A transparência e os princípios democráticos fazem parte do conceito de Kuapa Kokoo, diz Comfort Kummia, professora reformada e presidente do fundo fiduciário da cooperativa:
"Temos um prazo de aceitação de propostas para a aplicação dos fundos. Estas são examinadas e avaliadas por uma comissão. Se pudermos financiar por exemplo 14 propostas, apresentamo-las ao plenário” sublinhou Kummia.
O plenário anual é o grémio supremo que decide pela cooperativa, e é deveras grande. Chegam a reunir-se 3.000 delegados durante três dias no recinto universitário de Kumasi, diz Kwabena Arthur, para quem “esta dimensão começa a representar um desafio para a organização”. Mas, ao mesmo tempo não consegue esconder a satisfação pelo crescimento da sua cooperativa.
Autor: Mandy Ashie / Matthias von Hein
Edição: António Rocha / António Cascais