Teve início esta quinta-feira (15.02) a 68ª edição da Berlinale. Festival irá movimentar as salas de exibição de Berlim até ao próximo dia 25. A mostra principal traz o filme “7 Days in Entebbe”, que se passa no Uganda.
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Em sua 68ª edição, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, também chamado de Berlinale, traz à capital alemã a estreia mundial ou europeia de cerca de 400 filmes de todos os géneros, durações e formatos.
Quatro filmes alemães garantiram uma vaga na mostra principal, mas também um filme que se passa em África: "7 Days in Entebbe", ou "7 Dias em Entebbe", na tradução literal para o português, do realizador brasileiro José Padilha.
"7 Days in Entebbe" traz para as telas da Berlinale a história da operação de resgate dos passageiros do avião da Air France, sequestrado em 1976 e levado para o principal aeroporto do Uganda. Os sequestradores-terroristas receberam o apoio do então Presidente Idi Amin e a ação foi concluída com uma intervenção militar israelita.
Este ano, 24 filmes participam na Competição Principal, 19 deles concorrem aos Ursos de Ouro e Prata, como explica o diretor do festival, Dieter Kosslick. "A Competição Principal da Berlinale deste ano reflete o mundo como ele é. E este mundo é complexo, multifacetado, mas também emocionante. Isso é o que mostra cada um dos filmes."
Filmes africanos em exibição
Com o filme "Our Madness" (ou "A Nossa Loucura", na tradução literal) na mostra Forum, onde são apresentadas produções alternativas, e uma versão curta do mesmo, na mostra Shorts, o realizador português nascido em Angola, João Viana, retorna ao festival europeu.
"Our Madness" conta a história de uma mulher que foge de um hospital psiquiátrico, em Maputo (Moçambique), para ir em busca do marido e do filho. Numa cena deste filme, um homem tenta obrigar uma mulher a entrar num carro. Sem diálogo e a preto e branco, o trecho dá um gostinho da presença dos PALOP na Berlinale.
João Viana, que mereceu uma menção especial do júri pelo filme A Batalha de Tabatô, na Berlinale de 2013, descreveu a nova produção como "uma metáfora sobre a situação política e social presente em Moçambique".O diretor da Forum, Christoph Terhechte, diz que os filmes da mostra têm como tema o "regresso ao futuro". "Isso significa, assimilar e processar o passado, para se estar preparado para o futuro. João Viana, por exemplo, dirige-se a Moçambique de hoje para, no filme 'A Nossa Loucura', rastrear os fantasmas do passado colonial que ainda hoje nos perseguem."
Produções africanas marcam presença na Berlinale
Também na mostra dedicada às curta-metragens, a produção "Imfura", do Ruanda, traz para o debate atual o genocídio de 1994, pelo olhar do realizador Samuel Ishimwe.
Outras produções sobre temas africanos participam nesta Berlinale. O conhecido realizador zimbabueano Kudzanai Chiurai apresenta a longa-metragem "We Live in Silence", ou "Nós Vivemos em Silêncio", na tradução literal, em que aborda o tema do colonialismo, na mostra experimental Forum Expanded.
Super-heroína queniana
Já o queniano Likarion Wainaina apostou na história de uma menina que sonha em ser uma super-heroína. "Supa Modo" tem co-produção do alemão Tom Tykwer e participa na mostra Generation, dedicada especialmente a crianças e jovens.
O congolês Dieudo Hamadi apresenta um documentário de 75 minutos sobre as manifestações contra o Presidente da República Democrática do Congo (RDC) Joseph Kabila, desde que ele decidiu se recandidatar ao cargo pela terceira vez.
O filme "Kinshasa Makambo - On the Other Side of Freedom", "Kinshasa Makambo - No outro lado da liberdade”, na tradução literal, terá estreia mundial na mostra Panorama, dedicada a produções sobre temas críticos, como explica a diretora da mostra, Paz Lázaro. "Foi possível reunir uma variedade de temas e formas cinematográficas, num total de 47 filmes, dos quais 27 são longas-metragens e 20 são documentários."
Além das 14 mostras, há também eventos especiais, que incluem debates e palestras, na programação da Berlinale. A entrega do "Urso de Ouro" acontece no próximo dia 24.02. O Festival Internacional de Cinema de Berlim termina a 25 de fevereiro.
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.