Produtos fora da validade em supermercado em Sofala
Arcénio Sebastião (Beira)
6 de março de 2017
Governo contrata supermercado para fornecer alimentos a 300 famílias mas a maioria dos produtos está fora de validade. Autoridades apreenderam vários produtos deteriorados e alguns com prazos adulterados.
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A denúncia sobre a situação foi feita por um funcionário do gabinete da governadora de Sofala, Maria Helena Taipo, que por duas vezes foi levantar os produtos no supermercado Mutarara Center.
"Fui para levantar comida no valor de três mil meticais (o equivalente a cerca de 40 euros), (…) e quando cheguei a casa, ao verificar a validade dos produtos, descobri que a maioria dos produtos estava fora do prazo. De seguida fui à loja, para pedir para devolver, descobri que a maioria dos produtos da loja estava fora do prazo e mesmo assim o proprietário do estabelecimento voltou a colocar os produtos na vitrina como se nada tivesse acontecido”.
A DW África tentou gravar uma entrevista com o gerente do supermercado, mas as tentativas foram infrutíferas.
No final do ano passado, o gabinete da governadora contratou, na Beira, o supermercado Mutarara Center para fornecer produtos alimentares a mais de 300 famílias, em forma de cabaz de Natal. Os beneficiários do cabaz são jornalistas de vários órgãos de comunicação social baseados na cidade da Beira e funcionários do gabinete da governadora provincial.
"Fornecedor de renome”
O chefe do gabinete da governadora para área de contabilidade, Alfredo João, em entrevista à DW África, nota que a contratação do Mutarara Center para o fornecimento de alimentos teve por princípio a credibilidade que o fornecedor tem junto do governo provincial. A empresa tem vindo há muito tempo a fornecer alimentos à instituição pública.
"A adjudicação de Mutarara foi por via de concurso público. Temos contratos com o Mutarara, porque é um fornecedor de renome no nosso mercado. Regularmente o gabinete atualiza os contratos”, afirma Alfredo João.
Produtos fora da validade em supermercado em Sofala
Mas ao que a DW África apurou não foi lançado um concurso público em dezembro, sendo que a escolha terá sido feita através de uma simples indicação por um funcionário daquele gabinete.
Em contacto telefónico, o porta-voz do Governo Provincial de Sofala, Élcio Canda, afirmou que se tratou de um processo normal em que qualquer setor do governo, como as empresas, pode fazer sem que seja aberto um concurso público.
A Lei moçambicana prevê que qualquer aquisição do acima de 50 mil meticais (o equivalente a 660 euros) deve ser feita através de um concurso público.
Várias apreensões
Face a sucessivas denúncias de alguns clientes, uma brigada central da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) fez recentemente uma visita ao estabelecimento comercial e apreendeu vários produtos deteriorados e alguns com prazos adulterados. A empresa foi multada em sete mil meticais, o equivalente a cerca de 100 euros.
Segundo Acácio Foia, inspetor chefe adjunto da INAE, "foram encontrados alguns produtos deteriorados” e "produtos expostos no chão”. "Foram encontrados produtos sem prazos de validade, em que o próprio produto não traz a validade, mas também encontrámos produtos fora do prazo”, acrescenta o inspetor.
Os ciclistas do carvão de Sofala
Produzem-se diariamente mais de 15 toneladas de carvão vegetal em Sofala. Este é transportado de bicicleta para os clientes, percorrendo longas distâncias. O abate descontrolado de madeira está a causar desertificação.
Foto: Gerald Henzinger
Um ciclista de carvão
De distâncias que perfazem até cem quilómetros é transportado carvão de madeira, do interior, para segunda maior cidade moçambicana, a Beira. Este ciclista transporta cerca de 120 quilos de carvão que poderá vender por 650 Meticais (20 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
A caminho
Os cerca de meio milhão de habitantes da Beira queimam diariamente 15 toneladas de carvão de madeira. O carvão vegetal é produzido no interior da província de Sofala e transportado de bicicleta até os clientes, o que representa um enorme esforço físico.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas sobrecarregadas
Normalmente as bicicletas não oferecem lugar para mais de três sacos, se se quiser pedalar. Este transportador colocou seis sacos, ou seja cerca de 300 quilos de carvão, e empurra a bicicleta por detrás, guiando-a com duas cordas amarradas ao volante.
Foto: Gerald Henzinger
Pequenas reparações
As bicicletas usadas em Moçambique vêm habitualmente da Índia e têm uma qualidade duvidosa. Sob o peso do carvão as varetas das rodas partem com facilidade. As distâncias são muitas vezes tão grandes que dificilmente se fazem num dia, os ciclistas dormem por isso na berma da estrada.
Foto: Gerald Henzinger
Paisagem devastada
Não existe um verdadeiro controlo do desmatamento. No interior da Beira já quase não existem árvores. Quase todas elas foram abatidas e transformadas em carvão vegetal. O Governo, em colaboração com as autarquias, tenta travar a destruição ambiental. Agora cada aldeia tem uma cooperativa que distribui concessões aos produtores.
Foto: Gerald Henzinger
Desmatamento avança
Poucos produtores respeitam no entanto as normas. A erosão dos solos e a desertificação são as consequências do abate descontrolado.Torna-se cada vez mais difícil obter madeira para a produção. Não apenas devido aos pequenos produtores do negócio do carvão. Grandes empresas nacionais e internacionais, sobretudo chinesas, derrubam árvores e exportam os troncos.
Foto: Gerald Henzinger
Padre Emílio em Chissunguwe
O padre brasileiro Emílio Moreira defende os interesses dos produtores de carvão vegetal. A sua paróquia abrange as comunidades de Chissunguwe, Njangulo, Nhangau e Casa Partida. Estas comunidades situam-se entre 30 a 40 quilómetros da Beira. A imagem mostra uma visita do sacerdote à comunidade de Chissunguwe, na qual ele procura introduzir a plantação de legumes como alternativa ao carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Lenha para carvão
Em lugares como Chissunguwe produz-se o carvão utilizado na Beira. Este monte de lenha arde já há alguns dias e deverá produzir três a quatro sacos de carvão, pesando 50 quilos. A lenha é recolhida a grande distância porque em Chissunguwe há anos que deixou de existir.
Foto: Gerald Henzinger
Nando - Produtor de carvão
Na localidade vizinha Njangulo ainda existe um pouco de floresta. Ali Nando produz o seu carvão vegetal. Desta pilha de lenha poderão resultar cerca de dez sacos de carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha ardidas
Estas pilhas já arderam na totalidade e o proprietário aperta o último saco de carvão, que de imediato transportará de bicicleta para a Beira. A capital da província de Sofala é a maior cidade do centro de Moçambique e o maior mercado regional para o carvão vegetal.
Foto: Gerald Henzinger
A caminho dos clientes
Fontes de energia alternativas como gás ou electricidade não são acessíveis à maioria dos moçambicanos e, por isso, os produtores de carvão continuam a ter muita procura. Botijas de gás para cozinhar têm de ser importadas da África do Sul, isto apesar de Moçambique exportar gás para o país vizinho.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha nas serrarias chinesas
Desde o escândalo em torno da exportação de troncos inteiros por empresas chinesas, as mesmas começaram a trabalhar a matéria-prima em Moçambique. Desta forma, podem continuar a abater árvores e a exportar madeira. Os restos das serrarias são aproveitados pelos locais para a produção de carvão.