Professores angolanos em greve a partir de segunda-feira
Lusa
6 de abril de 2018
O Sindicato Nacional de Professores (SINPROF) de Angola confirmou que a nova paralisação no ensino geral deverá ocorrer entre os dias 9 e 27 deste mês. As reclamações dos docentes já duram há cinco anos.
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O aviso foi transmitido esta sexta-feira (06.04), em conferência de imprensa, pelo presidente do SINPROF, Guilherme Silva, que lembrou que o caderno reivindicativo, que dá origem à terceira fase da greve nacional, está no Ministério da Educação desde 2013.
"De lá para cá, nada foi feito para se dar solução às reclamações dos professores", lembrou o sindicalista. Por isso, "volvidos cinco anos, os professores não encontraram outra forma senão recorrer a um dispositivo constitucional", acrescentou.
Guilherme Silva referiu que os professores pretendem com esta greve demonstrar a sua "insatisfação" pela não aprovação do novo Estatuto da Carreira Docente, bem como rejeitar a estratégia do Ministério da Educação, de priorizar o concurso público de admissão de novos professores em detrimento da atualização de categoria dos professores em serviço.
Na sua intervenção, o diretor do SINPROF pediu aos professores que "não se deixem enganar" pelos apelos feitos por outros sindicatos, que já se demarcaram desta greve, por considerarem que "há da parte do Governo boa vontade na resolução dos problemas da classe".
Para o presidente do SINPROF, "estes dois sindicatos querem continuar a ver os professores mendigando, entregues à miséria e morrendo de fome".
Falta de vontade política
O sindicalista disse que os professores vão avançar para a greve porque entendem que "não há vontade política e sensibilidade da parte do Executivo em solucionar os problemas dos professores que se arrastam há muitos anos".
"Não se compreende, como é que desde a tomada de posse da senhora ministra da Educação nunca manteve um encontro de trabalho com um parceiro social tão importante, como é o SINPROF, pois sob sua mesa já encontrou questões de resolução imediata, tais como: a transição de milhares de professores do regime probatório para o quadro definitivo e a aprovação do estatuto da carreira docente", salientou Guilherme Silva.
"Com esta greve estaremos fora das salas de aulas, mas não distantes dos nossos alunos, pois a estes precisamos de ensinar a lutar com todos os meios legais pelos seus direitos, precisamos orientá-los a nunca se calarem diante das injustiças", frisou.
A dor dos talibés
Entregues pelos pais para serem educados por líderes religiosos, os meninos são agredidos por professores e obrigados a mendigar nas ruas. Escolas corânicas no Senegal são ambiente de sofrimento e exploração infantil.
Foto: DW/K. Gomes
Infância perdida
Nas paredes desta escola corânica, no Senegal, rabiscos contornam figuras de bonecos e estrelas. Aqui, as fantasias de criança convivem com uma realidade amarga. Meninos conhecidos como talibés são separados da família para aprender o Corão.
Foto: DW/K. Gomes
Sem portas nem janelas
Afastada do centro da cidade de Rufisque, no oeste do Senegal, fica esta estrutura abandonada, sem portas nem janelas. Esta madrassa, como é chamada a escola corânica, abriga cerca de 20 crianças entre três e 15 anos de idade. A falta de infraestrutura torna a rotina dos talibés ainda mais penosa.
Foto: Karina Gomes
Desprotegidos
Este é um dos quartos onde os talibés dormem. Não há camas, nem cobertores. E também faltam travesseiros. Os meninos deitam-se sobre sacos plásticos, no chão de areia. Nos dias frios, a maioria fica doente e não recebe tratamento médico adequado.
Foto: Karina Gomes
Aulas sobre o Corão
As crianças são entregues pelos pais aos marabus – poderosos líderes religiosos do país – para terem aulas sobre o Corão. Os professores têm uma reputação social elevada e é a eles que muitas famílias pobres do Senegal e da vizinha Guiné-Bissau confiam a educação dos filhos.
Foto: DW/K. Gomes
Entre livros
Tábuas com palavras em árabe e exemplares do livro sagrado estão espalhados pela madrassa. Os talibés acordam diariamente por volta das cinco da manhã para aprender o Corão. Em coro, recitam repetidamente trechos do livro sagrado.
Foto: DW/K. Gomes
Mendigos
Depois das orações, os meninos são obrigados a pedir dinheiro nas ruas e a conseguir algo para comer. Cada professor estipula uma quantia diária. Se os meninos não conseguem cumprir, são espancados. "Tínhamos de levar dinheiro para sustentar o marabu e a sua família, porque ele vivia disso. Eu sofri muito. Uma vez fui espancado porque cheguei atrasado", conta o ex-talibé Soibou Sall.
Foto: DW/K. Gomes
Amigos de rua
Os talibés vestem-se com roupas velhas e rasgadas e a maioria anda descalça. Chegam a mendigar sete horas por dia pelas ruas de Rufisque. Eles também pedem esmolas perto da estrada que liga a cidade à capital, Dakar. Curiosos, estes dois amigos aproximam-se e pedem para ser fotografados. E sorriem, apesar da rotina dolorosa.
Foto: DW/K. Gomes
Hora da refeição
Sentados no chão de areia, os talibés juntam-se para comer o que conseguiram nas ruas. Hoje têm arroz, vegetais e alguns pedaços de frango para dividir. Há restos de comida espalhados pelo plástico preto. "Gosto de viver aqui. Eu tenho paz", diz Aliou, de 8 anos.
Foto: DW/K. Gomes
Condições degradantes
Nesse espaço comum fica uma espécie de casa-de-banho e há muito lixo no chão. Os meninos andam descalços sobre objetos cortantes. Há chinelos e roupas velhas por toda a parte. Os meninos são constantemente vigiados por adolescentes que foram talibés na infância e auxiliam os professores. Agressões são constantes.
Foto: DW/K. Gomes
Exploração
As escolas alcorânicas surgiram nas zonas rurais do Senegal. Os meninos trabalhavam na lavoura e tinham aulas sobre o Alcorão. Com as constantes secas, os marabus foram forçados a aproximar-se das grandes cidades, como Dakar. Com dificuldades financeiras para sustentar todas as crianças, o incentivo à mendicância infantil tornou-se uma atividade rentável.
Foto: DW/K. Gomes
Sem os pais
Por chegarem muito pequenos às daaras, muitos meninos desconhecem o motivo de terem saído da casa dos pais. Bala, de 11 anos, não vê a mãe há sete anos. "A minha mãe está viva e tenho saudades dela. Estou aqui em Rufisque desde muito pequenino. Depois da escola, eu vou pedir dinheiro", diz. "Preferia viver com os meus pais."