Angola: Professores suspendem greve após negociação
Lusa | tms
29 de abril de 2017
Sindicato definiu um cronograma de ações com o Ministério da Educação, que deve ser cumprido pelo Governo até finais de junho. Caso contrário, categoria ameaça retomar a paralisação.
Publicidade
A greve dos professores angolanos foi suspensa este sábado (29.04) e a categoria deve retomar as atividades na próxima terça-feira (02.05). O anúncio foi feito pelo Sindicato Nacional dos Professores angolanos (Sinprof), que alertou que as "reivindicações (com o Governo) devem ser resolvidas até finais de junho", conforme acordado com o Ministério da Educação por meio de um cronograma de ações.
De acordo com o presidente do Sinprof, Guilherme Silva, trata-se de uma "suspensão e não levantamento da greve" no quadro das últimas negociações com o Ministério da Educação.
"Assim, o Sinprof, depois de ouvidos os filiados através dos seus secretariados provinciais, entende por bem suspender a greve, por enquanto, a partir do dia 2 de maio, com o retorno ao trabalho a partir das 07 horas em todas as escolas públicas e comparticipadas do subsistema de ensino não universitário", disse Silva, durante conferência de imprensa este sábado.
"O Sinprof mantém a sua posição na defesa da atualização de categorias, reajuste dos salários, subsídios ainda negados aos professores, passagem à efetividade de milhares de docentes e a melhoria das condições de trabalho", sublinhou.
Reivindicações até finais de junho
O Sinprof diz aguardar desde 2013 por respostas do Ministério da Educação e das direções provinciais de Educação ao caderno reivindicativo, nomeadamente sobre o aumento do salário, a promoção de categoria e a redução da carga horária, mas "nem sequer 10% das reclamações foram atendidas".
De forma a responder satisfatoriamente a todas as reivindicações dos professores, "para um levantamento atualizado dos casos dos professores prejudicados pela não observação destes direitos", o responsável informou que foi elaborado um cronograma de ações, que devem ser resolvidas durante o mês de maio e até finais de junho.
O estatuto da carreira docente, nomeações dos professores em regime probatório, atualização de categorias e pagamento dos subsídios de diuturnidade são os pontos principais que dão corpo a este cronograma de ações, que o Sinprof espera ver resolvido durante o período acordado.
"O Sinprof, enquanto parceiro do Ministério da Educação, fará o acompanhamento do levantamento a ser feito pelas direções provinciais de educação, dos professores em regime probatório, cujas nomeações para o regime definitivo de todos deverão ocorrer até finais de junho de 2017", precisou.
Sobre a atualização de categorias, disse que, "até 18 de maio de 2017, as direções provinciais de educação deverão fazer o levantamento de quantos professores, por categorias, precisam de ser atualizados e/ou promovidos".
"Intimidações e ameaças"
Na ocasião, o presidente do Sinprof denunciou também uma série de "intimidações e ameaças" a que os professores foram submetidos durante os quatro dias de paralisação das aulas (25 a 28 de abril) e que "ainda continuam", sobretudo no interior do país.
O primeiro dia da greve esta semana foi marcado pela detenção de, um representante do sindicato em Luanda, que foi preso em Cucuaco, sendo libertado horas depois.
Guilherme Silva recordou, ainda, que o sindicato está aberto ao diálogo. "Flexibilizámos tanto e neste momento os professores regressam ao trabalho", disse, assinalando que caso não respondam satisfatoriamente às reivindicações até finais de junho, o Sinprof deverá retomar a greve.
"Caso permaneçam por resolver os diferendos entre as partes, o Sinprof retomará a greve em data a anunciar, porque os professores atingiram o limite de tanto sofrimento".
Mais verbas para a Educação
Guilherme Silva também defendeu uma dotação de 20% do Orçamento Geral do Estado (OGE) para a educação, com vista a sua melhoria, acusando os deputados angolano de alguma "passividade" sobre o assunto.
"Tem de ser para educação 20% do OGE e 8 a 10% do PIB, direcionado à educação, assim formar os professores teremos educação de qualidade com professores bem formados, devidamente preparados e motivados", disse.
Às vésperas do 1.º de maio, Dia Internacional do Trabalhador, uma nota da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola, divulgada esta sexta-feira (28.04), fez uma avaliação negativa da situação dos trabalhadores no país, "a julgar pela degradação progressiva das condições socioeconómicas, laborais e sindicais dos trabalhadores".
A central sindical chama ainda a atenção para as dificuldades vividas pelos trabalhadores do setor público. Mais concretamente, a nota expressa preocupação com os últimos desenvolvimentos no setor da educação, "reconhecendo a legitimidade das reivindicações assumidas pelos sindicatos afetos ao setor".
A primeira fase da paralisação das aulas em Angola decorreu de 5 a 7 de abril. O ano letivo de 2017 em Angola arrancou oficialmente a 1 de fevereiro, com quase 10 milhões de alunos nos vários níveis de ensino, decorrendo as aulas até 15 de dezembro.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".