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Malanje: Professores andam quilómetros a pé para dar aulas

Nelson Camuto (Malanje)
26 de dezembro de 2022

Em Angola, muitos docentes chegam a andar mais de 30 quilómetros a pé para dar aulas em vários municípios de Malanje, por falta de estradas e de carros. A denúncia é do BUNTU e de professores do município de Marimba.

Angola | Ricardo Prata übersetzt die angolanische Nationalhymne in Kimbundu
Foto: Nelson Camuto

De acordo com o Movimento Cívico de Direitos Humanos BUNTU, os professores das zonas rurais da província de Malanje vivem um autêntico drama. Alguns morreram quando faziam a travessia de canoa do maior rio de Angola, outros são obrigados a fazer longas viagens de camião ou em tratores.

Trabalhar em alguns dos 14 municípios de Malanje é o mesmo que abraçar desafios perigosos.

O professor Luís Sassangato, colocado no município de Marimba, contou à DW que há professores que andam mais de 30 quilómetros a pé para dar aulas nas comunidades.

"Da sede do município que é Marimba para uma localidade chamada Xiquita são aproximadamente 30 quilómetros e é essa zona toda que está intransitável, tudo por causa das fortes chuvas que caem. Nem um carro entra aqui no município, então para chegarmos até lá se não utilizamos o trator temos que marchar a pé pelo menos até àquela localidade", relatou. 

Situação dos professores é "grave", segundo as denúncias dos docentes Foto: Nelson Camuto/DW

Centenas de quilómetros a pé

O sacrifício enfrentado pelos professores repete-se em várias localidades. Por exemplo, João Moisés, de 30 anos, diz que faz um percurso superior ao dos colegas, que o obriga a pernoitar na via pública.

"Andamos praticamente uma distância quase 100 quilómetros mesmo. Saio da vila de Mangando até a sede que perfaz uma distância de 65 quilómetros, e tenho que andar da sede até ao Xiquita, uma distância de 30 quilómetros. É muito complicado, tem sido uma dor de cabeça enorme."

O responsável do Movimento Cívico de Direitos Humanos "BUNTU" Adão Dala conta que alguns professores já perderam a vida neste percurso. Por exemplo, um docente morreu quando fazia a travessia de canoa do rio Kwanza, o maior de Angola, e outro num camião.

"Nós estamos a falar de professores em Angola que trabalham em zonas intransitáveis, os professores têm de passar até de canoa para irem lecionar", disse.

Transporte continua a ser um grande problema para os professores Foto: Nelson Camuto/DW

Professores que ficaram pelo caminho

"Tivemos há três meses professores que morreram no município de Kambundi porque estavam a passar o rio com a canoa e pela incapacidade da canoa, o professor acabou por morrer. Os professores são transportados tipo mercadorias", contou à DW Adão Dala.

Ouvido pela DW África, o jurista Carlos Xavier aponta o dedo ao Estado angolano. "Estamos diante de omissão e naturalmente se enquadra também na violação dos direitos fundamentais dos cidadãos."

Segundo o jurista, não é admissível que nos dias que correm, em pleno século XXI, ainda haja pessoas que percorram 30 quilómetros de distância para prestar um serviço ao Estado. "Significa que aqui há um contrassenso, já não é o Estado - 'pessoa de bem', mas sim, temos um Estado que 'pessoa do mal'.

A DW contactou a administração municipal de Marimba e o diretor do Instituto de Estradas em Malanje, mas recusaram-se falar sobre as soluções para o troço de mais de duzentos quilómetros.

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