Professores em greve na província angolana do Huambo
José Adalberto (Huambo)
31 de maio de 2018
Professores do ensino geral iniciaram quarta-feira uma greve para pressionar o Governo angolano a repor o salário de 2080 docentes suspensos desde abril. Diretor local da Educação diz que problema está a ser resolvido.
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Professores da província angolana do Huambo iniciaram esta quarta-feira (30.05) uma jornada de protesto de três dias contra o Ministério das Finanças, que suspendeu os salários de mais de 64 mil funcionários públicos em todo o país por alegada dupla "efetividade e falta de documentos".
Os professores decidiram paralisar as atividades no Huambo como forma de pressionar o Governo a reintegrar nas folhas de salário os 2080 docentes desativados na província, aquando do cadastramento dos funcionários públicos, no mês passado.
Nova greve?
O anúncio da greve foi feito pelo porta-voz dos professores, Belchior André. "Se durante a greve a entidade empregadora apresentar as folhas de salário de 100% dos professores afetados, a greve pode ser levantada", disse.
Professores em greve na província angolana do Huambo
A primeira fase da greve prolonga-se até sexta-feira (01.06). Se entretanto as reivindicações dos professores não forem atendidas pelo Governo, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação, Cultura, Desporto e Comunicação Social promete avançar para a segunda fase da paralisação.
"Caso a situação prevaleça, a greve será retomada a partir das sete horas nos dias 14 e 15 de junho de 2018, nos três períodos, isto é, até às 22:00 horas", acrescentou Belchior André.
Governo promete solução
O diretor da Educação do Huambo, Manuel Sampaio do Amaral, afirmou esta quinta-feira (31.05) que a greve dos professores é um "ato precipitado”. Segundo o governante, o Executivo está a trabalhar para resolver as questões apresentadas pelo sindicato e já começaram a ser reinseridos no sistema os professores que viram os seus dados desativados durante o processo de cadastramento dos funcionários públicos.
"Penso que não é o momento da greve e essa não se justifica, porquanto não se basearam na própria lei da greve e de forma leviana pensaram interromper as aulas. Aliás, esta manhã passamos já por algumas escolas e os alunos estão a afluir nas suas respectivas escolas", afirmou o diretor.
Numa ronda feita pela DW África a várias escolas da cidade foi possível constatar a presença de alunos e a ausência de professores. O sindicato fala numa adesão à greve de 98%.
O diretor provincial da Educação do Huambo acusa os professores de falta de seriedade. E ameaça tomar medidas para penalizar os grevistas. "Não podemos partir para a desordem, temos de ter consciência das mudanças que vão acontecendo um pouco por todo o lado e temos que ser sérios e firmes. Não vamos vacilar. Vamos fazer tudo para que o problema seja resolvido", explicou.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.