Professores em Nampula acusados de falsificar certificados
Sitoi Lutxeque (Nampula)
10 de maio de 2017
Mais de 70 professores poderão ser expulsos de várias escolas na província de Nampula, no norte de Moçambique. São acusados de falsificação de certificados de habilitações literárias para conseguir trabalho nas escolas.
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A descoberta foi feita durante uma ação de fiscalização das autoridades em algumas escolas primárias da província. Foram encontrados mais de 70 certificados falsos de professores a lecionar em Nampula. E pode até haver mais casos, admite o o diretor provincial de Educação, Júlio Mendes.
"Alguns certificados não conferiam com os dados que temos, ou seja, havia certificados que quando levados para a própria escola onde a pessoa foi formada não constavam da lista daquela formação. E começámos a detetar que havia uma situação que podia ser generalizada", disse.
500 professores no desemprego
O caso acontece numa altura em que mais de 500 professores recém-formados estão desempregados por falta de vagas no ensino.
O responsável pelo setor da Educação na província mais populosa de Moçambique deu um prazo de uma semana para que os professores visados se justifiquem."Já comunicámos aos diretores distritais para que convoquem os professores [visados] para que eles provem com certificados originais e justifiquem porque as cópias não conferem com os dados que foram apresentados", alertou.
Caso se prove que os certificados são falsos, o diretor provincial de Educação não descarta a possibilidade de apresentar os casos às autoridades judiciárias.
Críticas à má qualidade do ensino
Pais e encarregados de educação apontam o dedo ao Governo pela má qualidade de ensino no país, que acusam de desleixo. E pedem mais atenção na contratação e formação dos professores.
Entre eles está Fátima José, que tem três filhos a estudar na cidade de Nampula. Um deles frequenta a quinta classe, mas não sabe ler nem escrever."Nós estamos preocupados com os nossos filhos que entram nas escolas da 1ª à 12ª classes sem saberem ler [corretamente], através dos professores que estão a lecionar sem sequer formação", diz.
10.05.2017 Nampula-professores - MP3-Mono
A corrupção e o favorecimento de amigos no setor da educação são apontadas como causas da fraca qualidade de ensino na província.
Fátima José faz um pedido: "O Governo que verifique esses professores [ a sua legalização] para que tenhamos docentes formados para que os nossos filhos saibam ler e escrever [ no ensino primário]'', desafia.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.