Cinco profissionais da Rádio Despertar, emissora ligada à UNITA, foram suspensos e proibidos de acederem as suas instalações por alegadamente tentarem organizar uma greve geral que visava reivindicar salários em atraso.
Publicidade
Quatro jornalistas e um operador de som afetos a Rádio Despertar, emissora ligada ao maior partido na oposição angolana, UNITA, foram suspensos e proibidos de acederem as instalações da rádio por alegadamente tentarem organizar uma greve geral, que visava reivindicar salários em atraso e melhores condições de trabalho. Os jornalistas suspensos falam de "violação de um direito fundamental” e o sindicato dos jornalistas apela ao bom senso entre as partes.
Entre os jornalistas suspensos pela emissora que pertence a um grupo empresarial com ligações ao maior partido na oposição em Angola, a UNITA, está o editor Pedro Mota, que, segundo disse a DW África, a ordem lhes foi transmitida pelos seguranças da rádio que impediram os funcionários em causa de acederem às instalações.
"Isso acontece na sequência de uma greve decretada ontem, exigíamos condições de trabalho e exigíamos também os nossos ordenados que andam atrasados há dois meses e que não houve negociação possível para suspensão como continuidade da greve", disse Pedro Mota.
Greve é um direito constitucional
Joaquim Rodrigues, técnico da emissora, diz não entender dos motivos que levaram a sua suspensão uma vez que a greve é um direito que está na Constituição da República de Angola.
"A greve é algo para nós funcionários podermos pressionar a direção de qualquer empresa. Estamos há dois meses sem salários, hoje é dia 5 e ninguém fala nem do salário de setembro, outubro ou de novembro. Passamos a nossa vida muito difícil".
Até ao momento, segundo o jornalista Pedro Mota, os trabalhadores suspensos não receberam qualquer notificação oficial por parte da direção da Rádio Despertar.
"Estamos há dois meses sem receber"
No entanto, o jornalista apela ao bom senso da direção da emissora ligada à UNITA."Nós somos chefes de famílias. Estamos há dois meses sem levar nada para casa. Sabe como está a situação no país. Não faz sentido, chegamos ao limite. Não fica bem, principalmente para nós que trabalhamos numa radio como a Despertar".A situação já é do conhecimento da organização sindical junto da Rádio Despertar que, de acordo com o jornalista Manuel Luamba, membro do núcleo sindical, está a tentar negociar e encontrar uma solução que satisfaça as partes.
"Há dois meses registou-se também uma paralisação parcial, mas felizmente nenhum dos colegas foi suspenso. O problema foi resolvido. A direção diz que também não tem dinheiro, está à espera que o partido deposite o dinheiro para o pagamento dos trabalhadores da emissora. O núcleo sindical espera que com a intervenção do sindicato o problema seja resolvido", explica.
04.11.2016 Rádio Despertar / Greve - MP3-Mono
Direção da Rádio Despertar não comenta o caso
Manuel Luamba diz haver uma certa arrogância por parte dos responsáveis da rádio, situação que tem dificultado qualquer concertação."Indigitamos um colega para entrar em negociação com a direção da radio, e ontem (03.10.) fomos informados que se regista uma certa arrogância por parte da Rádio Despertar. Por isso, recorremos à direção geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos para intervir, uma vez que, como o núcleo não está a encontrar a solução do problema achamos que a direção geral do Sindicato podia fazer alguma coisa".
Contactado pela DW África, o diretor geral da Rádio Despertar, Emanuel Malaquias, recusou-se a comentar o assunto alegando tratar-se de um assunto interno.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
Foto: picture-alliance/dpa
Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)