Primeira remessa de antiretrovirais deve chegar nas próximas semanas. Programa irá trabalhar de forma inédita com grupos de risco da sociedade.
Publicidade
Angola deve receber nas próximas semanas remessas de antirretrovirais para combater o HIV/SIDA. Os medicamentos foram comprados por meio do financiamento do Fundo Global, que foram anunciados em julho deste ano. No total, o país receberá 32 milhões de dólares nos próximos dois anos para investir na compra de materiais e medicamentos e em programas para a prevenção e o tratamento da doença.
Os recursos do Fundo Global são gerenciados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que desde o mês de julho já adiantou o processo de compra dos antirretrovirais que devem chegar nas próximas semanas ao país, como explica o representante do PNUD em Angola, Paolo Balladelli.
"O PNUD já começou a fazer as requisições para fazer as aquisições dos medicamentos antirretrovirais, assim como também dos testes e também de uma série de outros bioquímicos que servem para medir a carga viral. Já estamos no momento de poder receber os medicamentos, os testes e os outros elementos”, ressalta.
Combate ao vírus
Segundo Balladelli, este é um projeto que terá duração de dois anos, desde julho deste ano até o final de junho do ano de 2018. No total, serão investidos pelo menos 30 milhões de dólares em diferentes áreas do combate ao vírus HIV.
"São 30 milhões de dólares, dos quais 20 milhões são praticamente para comprar os medicamentos antiretrovirais e os testes para HIV/SIDA, e uma parte dessa verba vai ser utilizada para melhorar a qualidade dos dados no serviço de saúde para implementar programas de prevenção”.
O projeto de dois anos seguirá estratégias inéditas de combate ao HIV em Angola, como trabalhar a prevenção e o tratamento de forma especial com grupos de risco da sociedade. Entre estes grupos, afrima o representante do PNUD, estão as trabalhadoras do sexo e os homossexuais.
"Essa é uma grande novidade, porque até agora não foi implementado nenhum programa para as mulheres que são trabalhadoras sexuais, assim também para os homens que fazem sexo com outros homens. Temos uma previsão de trabalhar com 2 mil trabalhadoras do sexo e com mil homem que têm sexo com outros homens”.
Prevenção
04.10.2016 Angola - HIV/PNUD - MP3-Mono
Ainda de acordo com Balladelli, essa estratégia de ação inédita contemplará os adolescentes, em particular as raparigas. "Uma parte deste orçamento que vai ser destinada também para prevenção com adolescentes, em particular com 30 mil raparigas”.
E para além da compra de medicamentos e materiais para a prevenção, parte dos recursos do Fundo Global em Angola serão destinados para a formação de ativistas e ONGs que atuarão diretamente nas comunidades para ajudar no combate da doença.
Além disso, as instituições que coordenam o projeto pretendem reduzir a discriminação dos portadores da doença por meio da aplicação de uma nova legislação no país nos próximos dois anos.
O combate ao HIV/SIDA em Angola, segundo aponta o representante do PNUD, foi de certa forma prejudicado pela crise económica pela qual passa Angola.
"Seguramente, com a crise economica do país, houve uma agodização do que é a situação dos medicamentos em geral. Não é só no setor da saúde, mas todos os setores foram afetados pelo problema do petróleo que teve uma baixa muito grande no nível internaiconal, com o preço. Mas não podemos estimar qual é a situação”, afirma.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.