Projeções das presidenciais no Mali dão vitória a Ibrahim Keita
Katrin Gänsler/Nádia Issufo29 de julho de 2013
As primeiras contagens apontam para uma vantagem do antigo primeiro-ministro Ibrahim Keita na primeira volta das eleições de domingo (28.07) no Mali. O seu principal adversário é o ex-ministro das Finanças Sumala Cissé.
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A contagem dos votos começou já esta segunda-feira (29.07). Sondagens dão como favoritos o candidato do partido Agrupamento por Mali, o ex-primeiro-ministro e antigo presidente do Parlamento Ibrahim Boubacar Keita, de 69 anos, seguido do ex-ministro das Finanças e antigo presidente da Comissão da União Económica e Monetária da África Ocidental Sumalia Cisé, de 63 anos.
Participaram na corrida eleitoral 27 candidatos. Se nenhum candidato ultrapassar os 50% dos votos nesta primeira volta, deverão então participar da segunda, prevista para 11 de agosto.
Os resultados oficiais deverão ser anunciados na sexta-feira (02.08). Numa mensagem dirigida aos malianos, o Presidente interino do país, Dioncounda Traore, excluído da corrida por ser membro das autoridades de transição, classificou esta ida às urnas como um “evento histórico”.
Tranquilidade e boletins insuficientes
Eleições no Mali de 2013: Um novo começo?
Gao, nas margens do rio Níger, é a cidade comercial mais importante do norte do Mali. As mercadorias são transportadas pelo rio em grandes canoas. Gao também abastece a cidade de Kidal. A normalidade regressa lentamente.
Foto: Katrin Gänsler
Gao anseia por normalidade
Gao, nas margens do rio Níger, é a cidade comercial mais importante do norte do Mali. As mercadorias são transportadas pelo rio em grandes canoas. Gao também abastece a cidade de Kidal.
Foto: Katrin Gänsler
De centro de comércio a teatro de guerra
Com a chegada do Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA), em março de 2012, a vida agitada da cidade mudou drasticamente. “Eles destruíram tudo”, queixa-se Mamai, que trabalha como vigilante na escola católica de Gao, da qual só resta o edifício. Por que é que fizeram isso? Mamai encolhe os ombros: “Só queriam causar estragos. Não encontro outro motivo.”
Foto: Katrin Gänsler
Confrontos em Gao deixam marcas
Rapidamente o MNLA teve de devolver o poder. Em abril de 2012, houve batalhas com o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO). O movimento derrotou os rebeldes tuaregues e estabeleceu a sua sede numa esquadra da polícia em Gao. Testemunhas dos renhidos confrontos são os buracos aí deixados pelas balas.
Foto: Katrin Gänsler
Edifício da polícia é tabu
Quem quebrou as regras da Sharia, ficou detido no edifício da polícia. Foi aqui que os islamitas mantiveram as mulheres. As mulheres mais bonitas foram levadas para o primeiro andar, onde se encontrava o comando da MUJAO. Seis meses após a libertação da cidade, ainda é tabu entrar no antigo edifício da polícia.
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Não há números oficiais de vítimas
Também Faty Walett Mohamed tem saudades do marido. A mãe de seis filhos não sabe onde ele está. Luta todos os dias para, de alguma forma, voltar a reunir a família. Fugir está fora de questão. “Noutros lugares, a situação não é melhor”. Até agora não foram divulgados os números oficiais de vítimas.
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Mulheres ficavam em casa
Foram as mulheres quem mais sofreu. Tiveram de se cobrir completamente e mal podiam sair de casa. Além disso, muitas delas trabalhavam no mercado ou vendiam frutas e legumes à beira da estrada.
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Túmulo de Askia
O MUJAO não atacou o Túmulo de Askia, Património Mundial da UNESCO. Com a chegada do MUJAO, era grande o receio de que fosse destruído. “Os jihadistas diziam: em Gao, os muçulmanos não vão enaltecer edifícios como em Timbuktu. Por isso, deixem-nos em paz”, relatou um dos guardas do túmulo.
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Uma rádio contra a ocupação
O MUJAO ofereceu muitas vezes dinheiro ao jornalista Malick Aliou Maïga para este trabalhar para o movimento. Ele recusou-se e preferiu lutar aos microfones da “Rádio Aadar Koïma Aadar” por uma Gao livre - contra as agressões do MUJAO. Como sinal de gratidão para com os franceses, que ocuparam Gao no final de janeiro de 2013, o estúdio chama-se hoje “Operação Serval”.
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Capacetes azuis da ONU ocupam-se da segurança
Os franceses ainda estão presentes na cidade, sobretudo em redor do aeroporto. Os soldados da MINUSMA, a força de manutenção de paz, também se ocupam da segurança. Um grupo de 12 mil soldados começou a trabalhar no Mali no início de julho de 2013. Gao é um dos principais locais da missão.
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Falta de infra-estruturas
Mas mesmo que a situação de segurança tenha voltado a ser classificada como melhor, ainda falta algo para se poder voltar à normalidade da vida quotidiana. Em Gao, ainda nenhum banco voltou a abrir. E as atividades económicas continuam difíceis.
Foto: Katrin Gänsler
Eleições porão fim à crise?
Por isso, muitas pessoas depositam grandes esperanças nas eleições presidenciais de 28 de julho (primeira volta) e de 11 de agosto (segunda volta). Um chefe de Estado eleito democraticamente significa, eventualmente, o fim do governo de transição e uma maior capacidade de acção para o país. A normalidade do dia-a-dia poderia, então, regressar a Gao.
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Um país indivisível
Algo particularmente importante é que, apesar dos recentes distúrbios causados pelos rebeldes do MNLA na cidade vizinha de Kidal, muitas pessoas em Gao desejam um Mali unido e pacífico.
Foto: Katrin Gänsler
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O Mali foi às urnas escolher um novo Presidente num ambiente de ordem e tranquilidade. Observadores eleitorais dizem que, de forma geral, o processo correu bem, sem grandes incidentes, ao contrário do que se esperava. Poucos dias antes das eleições registaram-se vários episódios de violência que resultaram em mortos nalgumas regiões do norte do país.
O Presidente francês, François Hollande, também já elogiou a forma como decorreu a primeira volta das presidenciais. “Estas eleições marcam o regresso do Mali à ordem constitucional, depois da vitória conseguida sobre os terroristas e a libertação do território”, salientou em comunicado.
Para além das forças locais, os capacetes azuis da missão integrada da ONU para estabilização do Mali (MINUSMA) trabalharam para garantir que as eleições decorressem com tranquilidade. Nas zonas mais críticas do Mali, como Kidal, Gao e Tombuctu, as medidas de segurança eram maiores. Em Kidal, os eleitores foram até revistados.
Em termos organizativos, o escrutínio foi marcado pela desorganização. Os boletins de voto foram insuficientes, abrangendo apenas 85% dos eleitores, num universo de 6,9 milhões de eleitores. Apesar disso, a ansiedade e o dever de cidadão reinaram em muitos eleitores. “É um grande, grande prazer escolher um bom Presidente para o meu país. E espero que ele mude o Mali”, contou um eleitor à DW África.
Eleições cruciais para estabilização
Estas eleições presidenciais são consideradas um passo crucial para a estabilização do país depois do golpe militar que em 22 de março de 2012 depôs o Presidente Amadou Toumani Touré e acabou com a ordem constitucional, e a consequente ocupação do norte por grupos radicais islamitas, como o Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA).
Projeções das presidenciais no Mali dão vitória a Ibrahim Keita
O Governo maliano conseguiu recuperar o norte graças à intervenção militar francesa e a uma missão militar africana. Com o confronto, a região ficou parcialmente destruída. Entretanto, os doadores internacionais já prometeram uma ajuda avaliada em cerca de 3 mil milhões de euros.