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Projeto pode diminuir taxa de desemprego em Angola

10 de dezembro de 2020

O desemprego em Angola continua a crescer e afeta, sobretudo, os mais jovens. Académico Rui Verde propõe a implementação de um projeto experimental destinado a colmatar as dificuldades no acesso ao trabalho.

Angola Junge Arbeitslose protestieren
Foto: DW/B. Ndomba

A falta de trabalho é uma das principais inquietações sociais em Angola. No terceiro trimestre de 2020, a taxa de desemprego atingiu os 34%, sendo que entre a população jovem essa percentagem ronda os 50%.

"A política do Governo [angolano] até agora tem sido esperar que o mercado atue e através do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) o desemprego vá diminuindo", critica o académico português Rui Verde, investigador afiliado à Universidade de Oxford.

Rui Verde, investigador e professor universitárioFoto: João Carlos/DW

"Para descer a taxa de desemprego de 34% para 32%, o PIB angolano teria que subir 4%. Não basta deixar funcionar a mão invisível do mercado. É preciso uma mão visível que dê um forte empurrão para a frente no emprego", sugere o professor universitário.

Projeto-piloto como solução

Para testar uma resposta ao fenómeno do desemprego em Angola, Rui Verde defende o arranque de um projeto-piloto num município da região de Luanda baseado num estudo da Universidade britânica de Oxford. "Far-se-ia o levantamento de quem são os desempregados. Primeiro, esses desempregados teriam cursos de formação e depois escolheriam uma de três hipóteses: ou eram empregados no setor público ou eram contratados por empresas privadas ou ainda criavam a sua própria empresa", começa por explicar. 

"E far-se-ia essa experiência durante três anos e no fim avaliar-se-ia se resultava, se toda a gente conseguia ter emprego, se era útil, ou se era preciso outro género de alternativa", acrescenta.

A entidade responsável pelo estudo é o CEDESA, um centro de pesquisa e análise independente dedicado à investigação de temas políticos e económicos da África Austral do qual faz parte Rui Verde. 

Para o analista, o projeto poderia ser financiado através de fundos recuperados pelo Estado angolano no âmbito do combate à corrupção. "O Presidente da República [João Lourenço] afirmou recentemente que estávamos a falar de 5 mil milhões de dólares. Alguns dos fundos obtidos nesse combate à corrupção seriam diretamente aplicados no combate ao desemprego. Havia então uma relação direta entre o sucesso do combate à corrupção e a diminuição do desemprego", comenta o académico.

Taxa de desemprego não mudou

O jornalista Carlos Gonçalves reconhece o sucesso do combate à corrupção em Angola, mas lembra que a taxa de desemprego, nos bons anos da economia angolana até à crise de 2008, estava próxima das percentagens atuais. Segundo Carlos Gonçalves, o impacto da proposta apresentada por Rui Verde será sempre reduzido por força das velhas estruturas ainda instaladas em Angola.

Carlos Gonçalves, jornalista angolanoFoto: DW/J. Carlos

"O país não tem uma indústria, nem regional nem provincial, para a construção de um tecido [empresarial] nacional e isso tem um impacto negativo nas políticas de fomento de emprego. Há um encostamento à faixa litoral, toda a economia é feita nessa faixa litoral e, por isso, a concentração dos jovens esbarra com toda essa insuficiência", considera o jornalista.

Carlos Gonçalves entende que "o mercado informal tem sido uma válvula de escape que, nos bons momentos, alivia a pressão política", por ser atrativa na fuga aos impostos. "No entanto, torna-se numa bomba-relógio em períodos como o atual. Quanto aos centros de emprego, vivem ainda da mentalidade da economia centralizada, o que significa que está pelo menos duas décadas desfasada", sublinha.
 
Para o jornalista angolano, cuidar do aparelho que gere o desemprego é uma prioridade fundamental. Carlos Gonçalves acrescenta que "quando havia muito dinheiro nunca se esteve perto da solução" para combater o desemprego de forma efetiva.

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