Em Manica, centro de Moçambique, têm aumentado os casos de burlas e falsas ofertas de emprego. As autoridades alertam para estes esquemas, que já fizeram centenas de vítimas. Dez burlões foram já detidos pela polícia.
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A maior parte dos burlados são jovens recém-formados, à procura do primeiro emprego. Os burlões fazem-se passar por funcionários públicos e prometem empregos no aparelho do Estado e bons salários, a troco de dinheiro. Alguns garantem, até, a admissão imediata em concursos de institutos de formação de professores e no setor da saúde.
Uma das vítimas de burla, falou à DW África na condição de anonimato, conta que, quando terminou a décima segunda classe, contactou um indivíduo que lhe prometeu um bom emprego e regalias aliciantes. Mas acabou por ser enganado.
Promessas de emprego viram burlas em Moçambique
"Primeiramente, pediram-me cinco mil, depois disse-me que faltava outra coisa e começou a contar várias histórias. Então, aquele valor começou a subir até atingir os 30 mil meticais", conta o jovem.
"Entretanto, levaram os meus documentos, uma cópia da carta de condução, porque me prometaram que iria andar de carro e trabalhar num bom gabinete. Depois, desapareceram. Em relação aos valores, não foram devolvidos até agora. Só sei que o tal indivíduo foi preso."
Dez detidos por burla
As autoridades estão preocupadas com o aumento dos casos de burla e extorsão. A porta-voz do comando provincial da Polícia de Manica, Elsídia Filipe, deixa o aviso: vagas de emprego não se compram. Aos cidadãos, pede que "se distanciem destes corta-matos que acabam muitas vezes por sair caro. Acabam incorrendo numa uma situação de burla, dando dinheiro sem retorno e sem o emprego prometido, que nunca existiu."
Segundo Elsídia Filipe, de 2017 até janeiro de 2018 foram neutralizados dez burlões que causaram centenas de vítimas. Alguns estão já a cumprir pena pelos crimes que cometeram. "O apelo que deixamos é que constitui crime, punível nos termos da lei. Distanciem se deste tipo de comportamento, sob o risco de serem responsabilizados do ponto de vista legal", sublinha ainda a porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica.
Um dos burlões já detido pela polícia, explica como funciona o esquema. "Primeiro, contactei um dos meus amigos aqui na cidade que havia vaga. De facto, ele acabou concordando com a vaga. Ele deu-me dinheiro, cerca de 28 mil meticais (cerca de 370 euros). Esse meu amigo procurou outro amigo dele de confiança, dizendo que eu já consegui vaga. Depois, veio outro, que conversou comigo e recebi mais 19 mil (cerca de 250 euros). E à última pessoa cobrei outro valor. Somando as despesas todas, daria qualquer coisa como 50 mil meticais (cerca de 660 euros)."
Moçambique: O que foi feito ao dinheiro destas obras?
É a pergunta de vários cidadãos de Massinga, província moçambicana de Inhambane. Cada vez há mais obras na vila, que nunca chegam ao fim.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras atrasadas
As obras arrastam-se no município de Massinga, sul de Moçambique, e os cidadãos querem saber porquê. Os empreiteiros ganham obras de construção civil na região, mas muitas são abandonadas após ser pago 50% do dinheiro para a sua execução, segundo o Conselho Municipal. A Justiça já notificou alguns empreiteiros para explicarem os atrasos, mas as estradas e avenidas continuam em péssimas condições.
Foto: DW/L. da Conceição
Mercado por construir
A União Europeia e a Suécia financiaram a construção de um mercado grossista em Massinga. Segundo a placa de identificação, as obras começaram a 28 de setembro de 2017 e deviam ter terminado a 28 de janeiro, mas até agora estão assim. O município remete as responsabilidades para o empreiteiro; contactada pela DW, a empresa negou explicar o motivo do atraso nas obras.
Foto: DW/L. da Conceição
Jardim perdido
O Conselho Municipal de Massinga gastou mais de 1,5 milhões de meticais (20.000 euros) para construir aqui um jardim etnobotânico - um projeto com a participação do Governo central e da Universidade Eduardo Mondlane. Mas as plantas colocadas aqui desapareceram e o terreno está abandonado. O Município promete que o jardim voltará a funcionar em breve, embora falte água para regar as plantas.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada sem fim à vista
Os trabalhos neste troço de cinco quilómetros duram há mais de três anos. O município de Massinga culpa o empreiteiro pela demora; a DW tentou contactar a empresa, sem sucesso. Segundo o município, aos 4,8 milhões de meticais (63 mil euros) pagos inicialmente ao empreiteiro foram acrescentados outros 3,9 milhões (51 mil euros) para continuar as obras, que deviam ter terminado em outubro.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada acabada?
25 de setembro de 2017 era a data de "entrega" desta estrada, segundo a placa de identificação. Mas a via, que parte da EN1 até ao povoado de Mangonha, continua em estado crítico. A obra está orçada em cerca de 1,9 milhões de meticais (quase 25 mil euros). Tanto a Administração Nacional de Estradas, delegação de Inhambane, como o Conselho Municipal recusaram comentar este assunto.
Foto: DW/L. da Conceição
Mais obras por acabar
Os trabalhos da pavimentação desta avenida também já deviam ter terminado, mas as obras continuam. O custo: cerca de 3,9 milhões de meticais (cerca de 51 mil euros). Mas a avenida continua por pavimentar. A DW tentou perguntar o motivo da demora à empresa Garmutti, Lda, responsável pela execução da obra, sem sucesso.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta transparência
Segundo o regulamento de contratação de empreitadas de obras públicas, nos locais de construção devem constar as datas de início e do término dos trabalhos. Mas não é isso que acontece aqui. Segundo um relatório do governo local, um ano depois desta obra começar, só 30% dos trabalhos foram concluídos. O empreiteiro está incontactável; a empresa não tem escritório em Inhambane.
Foto: DW/L. da Conceição
Fatura sobre fatura
O orçamento inicial para os trabalhos de reabilitação no Hospital Distrital de Massinga rondava os dois milhões de meticais (cerca de 26 mil euros), mas, meses depois, o custo aumentou 600 mil meticais (8.000 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Edifício milionário
Este edifício custou à edilidade mais de 40 milhões de meticais (acima de 500 mil euros), sem contar com os equipamentos novos - cadeiras, secretárias ou computadores. Alguns empreiteiros acham estranho que tenha custado tanto dinheiro, porque o material de construção foi adquirido na região. Em resposta, o município justifica os custos com a necessidade de garantir o conforto dos funcionários.
Foto: DW/L. da Conceição
Adjudicações continuam
O município de Massinga continua a adjudicar novas empreitadas apesar de muitas obras não terem terminado. Vários residentes dizem-se enganados pelo edil, Clemente Boca, por não cumprir as promessas eleitorais.
Foto: DW/L. da Conceição
Campo por melhorar
Todos os anos, a Assembleia Municipal de Massinga aprova dinheiro para melhorar este campo de futebol, mas o campo continua a degradar-se. Segundo membros da assembleia, o dinheiro "sai" dos cofres públicos, mas nada muda e os jogadores "sempre reclamam". Em cinco anos, terão sido gastos 30 mil meticais (cerca de 400 euros). Nem o edil, nem os gestores do campo dizem o que foi feito ao dinheiro.
Foto: DW/L. da Conceição
"Fazemos sozinhos"
Devido à demora na construção de mercados e bancas, os residentes da vila de Massinga têm feito melhorias por conta própria, para manterem os seus produtos em boas condições. Questionados pela DW, os vendedores disseram que preferem "fazer sozinhos", porque se esperarem pelo município nunca sairão "do sol, da chuva e da poeira".