Ambientalistas não conseguem parar edificação de quebra-mar
12 de junho de 2015 Apesar das críticas e da contestação, o quebra-mar começou a ser construído na Baía do Algodoeiro, na Ilha do Sal, e está quase pronto. O objetivo é melhorar as condições balneares para quem frequenta esta zona, onde o grupo hoteleiro The Resort Group está a construir um empreendimento de luxo.
Victor Fidalgo, representante do grupo, diz que "já não vale a pena discutir." E que nada pode travar a construção dos esporões, até porque "não há motivos", sublinha: "Os esporões não vão afetar a natureza, tanto do ponto de vista ambiental como oceânico. Vão embelezar aquela zona, vão criar uma área balnear e melhores condições para o turismo naquela zona bem como mais emprego para os cabo-verdianos."
Victor Fidalgo afirma que "já não há polémica" e que "todas as dúvidas foram esclarecidas". Mas, no Sal, ainda há vozes que criticam o projeto.
Protestos ignorados
Desde 2012, um grupo de ambientalistas, surfistas e residentes na ilha tenta impedir a construção dos esporões. Estão preocupados com o impacto ambiental, sobretudo com as tartarugas marinhas, e com a formação das ondas da praia de Ponta Preta, famosa pela prática de windsurf.
Nesse ano, foi lançada uma petição online, dirigida ao diretor-geral do Ambiente, para "Salvar a Ponta Preta". Até ao momento, conseguiram cerca de 6.800 assinaturas.
Djimms Delgado, um residente no Sal, também assinou a petição: "Estão a ignorar completamente a opinião das pessoas e até da ONU, que lançou um documento a dizer que reprovava a construção desse quebra-mar na Ponta Preta, onde está a reserva natural. Mas não se importaram com isso e estão a avançar com a obra."
Pouco depois do arranque das obras, a imprensa cabo-verdiana divulgou um relatório das Nações Unidas que desaconselha a construção dos esporões, situados na Reserva Natural da Ponta do Sinó.
O documento fala em "danos ambientais" e "degradação irreversível". Uma das preocupações é a nidificação da tartaruga cabeçuda, uma espécie em vias de extinção.
Mas Victor Fidalgo, do Resort Group, afirma que "não há prejuízo nenhum para as tartarugas": A ONU pode emitir opinião, mas não é nenhuma autoridade vinculativa. Não é porque Cabo Verde é [um país] pequeno que tem de se submeter à opinião de alguém pago pela ONU para emitir opinião. Nós nos precavemos sob todos os aspetos ambientais e oceanicos dos esporões."
Só o turismo interessa?
O cidadão Djimms Delgado considera que o projeto foi feito a pensar "unicamente nos turistas" e não traz nenhum benefício para os habitantes da ilha. E também critica a atitude do Governo cabo-verdiano: "Não sei onde é que vamos parar. Porque se o estudo diz que a zona é protegida e não é viável a construção ali, vamos construir isso [só] porque um grupo hoteleiro quer fazer uma marina, um quebra-mar para encostar iates e coisas do tipo."
Victor Fidalgo afirma que a obra é necessária e que tanto os turistas como a população local vão beneficiar disso: "Prejuízos não vai trazer nenhuns, mas os benefícios são enormes. E talvez até possa alavancar outros projetos e iniciativas, de forma a melhorarmos o destino turístico de Cabo Verde."
O responsável do grupo lembra que o projeto foi homologado pelo Ministério do Ambiente, depois de ter sido sujeito a consulta pública em finais de 2012.
A DW África contactou a ONU e as autoridades ambientais de Cabo Verde, mas até ao momento não obteve resposta.