Dezenas de professores recém-formados saíram à rua em Quelimane, centro de Moçambique, para exigir transparência no processo de contratação de docentes primários. Direção Provincial nega acusações de corrupção.
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A manifestação desta terça-feira (18.12) em frente à Direção Provincial de Educação da Zambézia durou poucas horas. Mas foi tempo suficiente para mais de 300 manifestantes denunciarem falta de transparência no processo de contratação de professores do ensino primário.
Dezenas de professores formados no ano passado perguntam por que é que ainda não foram colocados, quando os professores deste ano já foram. "Os recém-graduados já estão a gozar desse direito de afetação, e nós, do ano passado, simplesmente estamos em casa, sem nenhum informe que devemos seguir", disse um dos manifestantes.
Professores de Quelimane protestam contra corrupção
"Queremos saber o que podemos fazer com os nossos certificados, se podemos devolver aos institutos onde fizemos a formação ou se podemos deixar aqui na Direção Provincial e virarmos camponeses ou negociantes como qualquer um", desafia ainda o professor.
Denúncias de corrupção
Os manifestantes alegam que funcionários da Direção Provincial de Educação da Zambézia aceitaram dinheiro para colocar professores vindos de outras zonas de Moçambique. "Vieram pessoas de Sofala e Beira com bolsos cheios", disse um dos professores presentes no protesto.
Mahomed Ibraim, diretor-adjunto da Direção Provincial de Educação da Zambézia, nega a acusação. "Ninguém cobrou, não temos evidências de cobrança. Isto só podem ser suposições ou então receiam que assim aconteça. Se nos apresentarem provas materiais, então que nos apresentem para tomarmos medidas", prometeu.
A Direção Provincial de Educação da Zambézia confirma que os professores graduados este ano foram colocados diretamente e que os graduados no ano passado não foram. Mahomed Ibraim garante, no entanto, que há ainda 582 vagas por preencher e os professores graduados no ano passado podem concorrer.
"Vai ser aberto um concurso ao nível dos distritos e eles têm de concorrer. Apenas isso. Facilitámos o processo daqueles que se estão a graduar este ano para evitar situações como as do ano passado", justifica. Em 2017 já tinha havido protestos de professores recém-graduados, que se queixavam de não ter colocação. Ao todo, a província da Zambézia precisa no próximo ano de 2.500 professores.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.