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PolíticaQuénia

Protestos anti-Governo intensificam-se no Quénia

mjp | com agências
27 de março de 2023

Polícia lançou gás lacrimogéneo contra apoiantes do líder da oposição, Raila Odinga, que participavam em marchas "ilegais" em Nairobi e Kisumu, contra o Governo e o aumento do custo de vida. Um jovem foi morto a tiro.

Foto: John Muchucha/REUTERS

Um jovem morreu esta segunda-feira (27.03) em Kisumu, no Quénia, no segundo dia de manifestações no país convocadas pelo líder da oposição, Raila Odinga, contra o Presidente William Ruto. A polícia queniana lançou gás lacrimogéneo sobre as marchas de apoiantes de Odinga e saqueadores em Kisumu e na capital, Nairobi, enquanto o líder da oposição apelava à manifestação contra o Governo e a inflação, um dia depois de o Governo ter proibido qualquer protesto.

Raila Odinga, o candidato presidencial que perdeu as eleições em agosto passado, continua a afirmar que lhe foi "roubada" a vitória e que o Governo de Ruto é "ilegítimo". O veterano político tem apelado a protestos todas as segundas e quintas-feiras, acusando o Presidente William Ruto de não controlar o aumento do custo de vida.

Os manifestantes desafiaram o aviso do Inspetor Geral da Polícia Japhet Koome de que as manifestações em Nairobi e no bastião de Odinga em Kisumu eram "ilegais". Em Kisumu, um homem foi morto a tiro durante a marcha, segundo o chefe do principal hospital da cidade, citado pela agência de notícias France Presse (AFP). É a segunda vítima mortal registada desde que as manifestações começaram, na segunda-feira passada, quando um estudante universitário foi morto por uma bala disparada pela polícia.

"Uma pessoa foi morta a tiro. Ele é desconhecido, é um homem jovem", disse George Rae, diretor-geral do Hospital Jaramogi Oginga Odinga, sem adiantar pormenores. "A polícia simplesmente despejou o corpo aqui sem registar nada, mas tem um tiro", descreveu um funcionário da unidade hospitalar.

Polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes em NairobiFoto: John Muchucha/REUTERS

Fogo e pedras

"Estamos a pedir uma redução do custo de vida, uma redução nos preços da farinha de milho, da gasolina, do açúcar e das propinas escolares", disse Raila Odinga, em Nairobi, perante centenas de apoiantes da classe trabalhadora do distrito de Kawangware, antes de a polícia disparar gás lacrimogéneo e canhões de água contra a marcha, para a fazer mudar de direção.

Em Kibera, a maior favela da capital, os manifestantes atearam fogo a pneus e atiraram pedras à polícia. Os manifestantes daquele reduto de Raila Odinga confrontaram a polícia, batendo em panelas vazias e cantando "não temos farinha de milho", segundo relatos de um repórter da agência de notícias francesa AFP no local.

A situação permaneceu calma no resto da cidade, especialmente nos bairros onde ocorreram confrontos na semana passada, e onde se estabeleceu uma forte presença policial para este dia arriscado. Os esquadrões antimotim ocuparam pontos estratégicos em Nairobi e patrulharam as ruas, onde muitos negócios permaneceram fechados. As ligações ferroviárias entre os subúrbios e o distrito comercial central foram suspensas.

Apoiantes de Raila Odinga ergueram uma barricada de fogo em KiberaFoto: Brian Otieno/REUTERS

Raila Odinga manteve, no domingo, o seu apelo a manifestações contra os efeitos da inflação todas as segundas e quintas-feiras, pouco depois de o chefe da polícia, Japhet Koome, ter decretado uma proibição dos protestos marcados para hoje. Koome tinha avisado que a polícia não permitiria que "hooligans viessem à cidade para pilhar e destruir bens e empresas das pessoas".

31 agentes ficaram feridos nos confrontos da semana passada entre a polícia de choque e manifestantes, e mais de 200 pessoas foram presas, incluindo vários políticos da oposição. As manifestações são o primeiro grande surto de agitação política desde que William Ruto tomou posse, há mais de seis meses.

"Dormir de estômago vazio"

O Presidente queniano, atualmente em viagem pela Europa, apelou na quinta-feira ao líder da oposição para que acabasse com os protestos: "Digo a Raila Odinga que se ele tem um problema comigo, deve enfrentar-me e parar de aterrorizar o país".

Muitos quenianos, confrontados com os elevados preços das mercadorias, estão a lutar para se alimentarem a si próprios. A inflação atingiu 9,2% em fevereiro, de acordo com o Governo, e o recorde de seca na região deixou milhões de pessoas sem recursos e sem alimentos.

Odinga prometeu a "mãe de todas as manifestações" para esta segunda-feiraFoto: Monicah Mwangi/REUTERS

"Se os líderes não se pronunciarem, aqueles que são afetados somos nós. Eles são pessoas ricas, e nós é que vamos dormir de estômago vazio", disse à AFP o motorista de táxi Collins Kibe.

O regulador de energia do Quénia anunciou um aumento dos preços da eletricidade a partir de abril, apesar de o presidente Ruto ter dito, em janeiro, que não haveria nenhuma subida dos preços da energia elétrica.

Durante a campanha eleitoral, o atual presidente retratou-se como um defensor dos mais desfavorecidos e prometeu melhorar a vida do cidadão comum do seu país. No entanto, retirou os subsídios ao combustível e à farinha de milho, um alimento básico.

Ruto em Berlim

Nos quase sete meses de governação, Ruto mostrou que pretende aproximar o país de economias fortes – sobretudo no Ocidente. Esta segunda-feira, foi recebido em Berlim com honras militares pelo Presidente Frank-Walter Steinmeier. O chefe de Estado queniano chegou à capital alemã determinado a mostrar aos investidores que o Quénia é uma aposta segura, apesar dos protestos anti-Governo.

"O Quénia e a Alemanha darão prioridade à eliminação de barreiras não fiscais para reduzir os custos de fazer negócios e facilitar a circulação de mercadorias entre os dois países", disse Ruto.

Numa declaração divulgada pelo seu gabinete, o Presidente queniano convidou os empresários alemães a investir nas micro, pequenas e médias empresas do Quénia (MSME), lembrando que o país está a "beneficiar dos estabelecimentos alemães mais experientes, organizados e dotados de recursos do mundo".

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