Presidente de Cuba acusa EUA de quererem "mudança de regime"
12 de julho de 2021"Estamos a acompanhar o que acontece e (...) assegurarmo-nos de que os direitos básicos das pessoas, especialmente a liberdade de expressão e a liberdade de reunião pacífica, serão respeitados", disse o porta-voz da ONU, Farhan Haq, quando interrogado sobre a situação em Cuba, durante uma conferência de imprensa.
Haq destacou que, perante as manifestações de domingo (11.07) em Cuba, as Nações Unidas mantêm a sua "posição de princípio" sobre a importância de respeitar essas liberdades fundamentais.
Questionado sobre as alegadas agressões sofridas por jornalistas, incluindo um repórter fotográfico de uma agência noticiosa internacional, o porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que "em qualquer parte do mundo a imprensa deve ter liberdade para fazer o seu trabalho sem perseguições e sem violência ou ameaças de violência".
Autoridades negam violência
O Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, negou nesta segunda-feira (12.07) que tenha havido repressão nos protestos antigovernamentais ocorridos na véspera, apesar de vídeos mostrando uma ação policial contundente e múltiplas denúncias de prisões de manifestantes.
"Eles já sugeriram que em Cuba nós reprimimos, assassinamos. Onde estão os assassinatos cubanos? Onde está a repressão cubana? Onde estão os desaparecidos em Cuba?", argumentou o Presidente, em entrevista especial, após as manifestações sem precedentes em várias partes de Cuba.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram como a polícia e agentes de segurança reprimiram violentamente os manifestantes no domingo (11.07), que em muitos casos ficaram feridos, e num deles aparece um homem fardado a disparar no meio da rua.
Origem das manifestações
Milhares de cubanos saíram às ruas no domingo (11.07) para protestar contra o Governo, com gritos de liberdade, perante confrontos com as autoridades que detiveram dezenas de pessoas, enquanto o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel convocava os seus apoiantes para defender a revolução.
Agastados com a crise económica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos e obrigou o Governo a cortar a eletricidade durante várias horas por dia, milhares de cubanos saíram às ruas espontaneamente no domingo, em dezenas de cidades do país, aos gritos de "Temos fome", "Liberdade" e "Abaixo a Ditadura".
Trata-se de uma mobilização sem precedentes em Cuba onde as únicas reuniões autorizadas são geralmente as do Partido Comunista Cubano (PCC, partido único), tendo as forças de segurança procedido a dezenas de detenções e se envolvido em confrontos com manifestantes.
Estes foram os maiores protestos anti-Governo de que há registo na ilha desde o chamado "maleconazo", quando em agosto de 1994, em pleno "período especial", centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.
Acusação contra os EUA
Os Estados Unidos já manifestaram a sua "preocupação" perante a reação das autoridades cubanas e a Rússia disse que não aceitará "ingerências" de países terceiros contra Cuba.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressou nesta segunda-feira (12.07) o seu apoio ao povo cubano, e descreveu os protestos como "um pedido de liberdade" no "bravo" exercício dos "direitos fundamentais".
"O povo cubano está a exercer com bravura os direitos fundamentais e universais", disse Biden, em nota divulgada pela Casa Branca.
O mandatário americano destacou o seu apoio ao povo cubano "no seu apelo à liberdade" após "décadas de repressão e sofrimento económico" imposto pelo "regime autoritário de Cuba".
Biden também pediu respeito "pelo direito ao protesto pacífico e o direito [do ovo cubano] a determinar o seu próprio futuro".
Numa comunicação televisiva, hoje, Díaz-Canel acusou os Estados Unidos de estarem por detrás dos protestos, com o objetivo de "mudar o regime".
Posição da UE
Os chefes da diplomacia da União Europeia, reunidos esta segunda-feira (12.07) em Bruxelas, partilham a preocupação com a repressão de manifestações pacíficas em Cuba, um indicador claro da qualidade do regime.
O Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, exortou no domingo os seus apoiantes a saírem às ruas prontos para o "combate", em resposta às manifestações que aconteceram.