Protestos em Luanda: Quatro mortos e mais de 500 detenções
29 de julho de 2025
Pelo menos quatro pessoas morreram e várias ficaram feridas nas manifestações desencadeadas na segunda-feira na capital de Angola, Luanda, contra o aumento do preço do combustível, durante as quais ocorreram atos de vandalismo, confirmou esta terça-feira a polícia angolana.
"Relatamos quatro mortes até ao momento, todas entre cidadãos", informou em conferência de imprensa o porta-voz da Polícia Nacional, subcomissário Mateus Rodrigues, que não forneceu um número exato de feridos, entre os quais também há agentes.
Protesto vira tragédia
Rodrigues referiu ainda que mais de 500 pessoas foram detidas e garantiu aos jornalistas que é estável a situação de segurança pública na capital angolana, indicando que foram vandalizadas 45 lojas, 25 viaturas particulares, 20 autocarros públicos e três agências bancárias.
"Estamos a verificar o regresso à normalidade, graças ao trabalho que foi feito ontem [segunda-feira] durante o período da tarde e da noite", disse Mateus Rodrigues, sublinhando a abertura das principais vias, onde se registaram atos de vandalismo nas últimas 24 horas, e a remoção dos obstáculos colocados nas estradas, impedindo a livre circulação de pessoas.
Segundo Mateus Rodrigues, registam-se hoje "ainda alguns focos desordem" em alguns pontos, "onde indivíduos com as mesmas intenções daqueles que [...] perpetraram algumas ações, mas estão a ser repelidos de forma exemplar".
Força contra civis
Para reprimir as marchas, a polícia usou gás lacrimogéneo e balas de borracha e, segundo reportagens da imprensa local, também teria usado munição real em alguns casos, algo que não detalhou o porta-voz policial.
De acordo com Mateus, pelo menos 45 lojas e três agências bancárias foram assaltadas e vandalizadas, enquanto duas caixas eletrónicas, 25 veículos privados, 20 autocarros públicos foram destruídos. Além disso, os poucos mini-autocarros que tentaram não seguir a greve foram apedrejados.
"Esta manhã, ainda há alguns focos de desordem em algumas zonas, com indivíduos a cometer atos de vandalismo, mas estão a ser repelidos de forma exemplar", afirmou o porta-voz.
Direitos em risco
No início do mês, o Governo angolano elevou o preço do gasóleo, o combustível mais usado para o transporte coletivo, de 300 kwanzas (0,29 euros) para 400 kwanzas (0,37 euros) por litro, o que representa um aumento de mais de 30%.
Desde então, a capital angolana tem sido palco de protestos durante três sábados consecutivos — nos dias 12, 17 e 26 —, convocados pela sociedade civil e pelo movimento estudantil sob a bandeira do chamado "Movimento Contra o Aumento do Preço dos Combustíveis".
Há duas semanas, a organização Human Rights Watch (HRW) denunciou que a polícia fez um "uso excessivo" da força e realizou 17 detenções arbitrárias ao dispersar o protesto de 12 de julho.
Segundo a HRW, os agentes dispararam "desnecessariamente" gás lacrimogéneo e balas de borracha, além de agredir manifestantes, o que causou vários feridos.
"Os angolanos deveriam poder protestar pacificamente contra as políticas do Governo sem serem recebidos com força excessiva nem outras violações dos seus direitos fundamentais", afirmou em um comunicado a diretora adjunta para África da HRW, Ashwanee Budoo-Scholtz.