Protestos em Maputo deixam 350 mil pessoas sem transporte
10 de dezembro de 2024Os protestos na área metropolitana de Maputo têm causado um grande impacto na mobilidade urbana, deixando cerca de 350 mil pessoas sem acesso ao transporte público. A destruição de 20 autocarros e 10 viaturas de transporte semicolectivo desde o início das manifestações não só prejudicou os utilizadores, mas também gerou um prejuízo financeiro significativo, ultrapassando os 25 milhões de meticais. A situação levanta preocupações sobre a segurança e a necessidade de uma resolução rápida para evitar maiores transtornos e perdas, disse em entrevista à DW António Matos presidente da Agência Metropolitana de transportes de Maputo.
DW África: Quais são as implicações que as manifestações trazem para os transportadores públicos?
António Matos: Se nós antes das manifestações já estávamos mal porque não conseguimos melhorar a nossa mobilidade da população, com este cenário nós estamos a privar diariamente cerca de 350 mil pessoas que não podem usar os meios disponíveis de transporte público no seu todo. A mobilidade foi fortemente afetada. Nós temos nesse momento 20 autocarros vandalizados, eventualmente um pouco mais de 10 viaturas de transportes semicoletivos também vandalizados... Assistimos a assaltos aos nossos passageiros, vidros quebrados e roubos de telemóveis.
Este cenário não tem muito a ver com as manifestações e dá a impressão que há um grupo [de pessoas] que está criar muitos distúrbios e está a empobrecer cada vez mais não só a nossa população mas também os operadores que a muito custo tentam fazer algum dinheiro diariamente.
DW: Quais são os danos estimados?
AM: Por cada dia que passa são cerca de 5 milhões de meticais no global de receita que estes operadores teriam caso estivessem a trabalhar. É um caso sério, porque vai também proporcionar algum desemprego e muita dificuldade no pagamento.
Nós temos um valor de perda de carros vandalizados na ordem de 25 milhões de meticais.
DW: Qual é o nível de movimentação dos transportadores nos últimos dias?
AM: No início tínhamos uma abertura na hora da manhã e outra no período da tarde. Nesta última semana, mesmo depois das 16 horas ou mesmo antes do sol nascer, já existe bloqueamento das grandes vias de acesso à cidade de Maputo.
Não se esqueçam que a cidade de Maputo é a capital política e é onde estão concentrados grande parte dos serviços. As pessoas têm muitas necessidades de tratar dos seus afazeres não só para o trabalho, mas também para o hospital, escola, lazer, seja o que for.
Portanto, com esses movimentos pendulares, nós estimamos que as cerca de 600 a 800 mil pessoas que entram todos os dias na cidade de Maputo ficam com o seu transporte comprometido. Neste momento, estamos a operar com cerca de 10 por cento das nossas capacidades e com muita dificuldade, porque há determinadas vias que continuam com barreiras e que não permitem a circulação dos autocarros.
DW: Quais são as consequências que os transportadores públicos estão a ressentir?
AM: São muito graves, porque os operadores não têm as receitas que precisam para poder operar. Eles também têm trabalhadores por pagar. A nossa população também fica privada de realizar as suas atividades diárias, portanto há uma grande faixa da população que se desloca a pé porque tem necessidade de facto de chegar aos seus destinos.
DW: Existe uma possível solução por parte dos transportadores para parar com essa situação?
AM: Isso transcende a nossa capacidade. Naturalmente que todos nós, moçambicanos, desejamos que isso acabe o mais rapidamente possível. O que nós mais desejamos é voltar a ter os dias normais e poder operar, e satisfazer a mobilidade dos nossos passageiros. Queremos recuperar pelos danos sofridos.