Protestos em Moçambique: "Não creio que haverá tréguas"
29 de novembro de 2024Foi ao som do hino nacional e de África que terminou mais uma etapa de manifestações pós-eleitorais em Moçambique, esta sexta-feira (29.11).
No início da semana, o candidato presidencial Venâncio Mondlane convocou três dias de protestos, e muitos moçambicanos responderam ao apelo. Além dos hinos, as manifestações incluíram a interrupção total do trânsito em vias principais por cerca de oito horas.
Para este sábado, Mondlane promete revelar novas informações sobre a abrangência da fraude que disse ter constatado nas eleições gerais de 9 de outubro, o que pode aprofundar a crise política e social no país.
"Não creio muito que haverá tréguas nos próximos dias", opina o analista político Wilker Dias em declarações à DW África.
Dias considera que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder há mais de cinco décadas), tem a responsabilidade de liderar esforços para diminuir a tensão pós-eleitoral, mas, até agora, não houve avanços significativos nesse sentido.
"De um lado, temos a FRELIMO, através do Governo, a usar a tática de vencer pelo cansaço. E, do outro lado, temos Venâncio Mondlane, a exercer pressão até à mudança do atual cenário político. Há um extremar de posições, o que pode ser perigoso. Isso poderá fazer aumentar o número de mortos", alerta.
Falha plano de pacificação
A situação piorou após o fracasso da tentativa de diálogo proposta e mediada pelo Presidente Filipe Nyusi. O encontro contou apenas com a presença de três dos quatro candidatos presidenciais. Venâncio Mondlane, que encabeça a oposição, não participou na iniciativa presidencial, e não se conseguiu estabelecer um plano para a pacificação do país.
Para Wilker Dias, as medidas propostas até agora são insuficientes diante da gravidade da crise.
"Enquanto não existir diálogo, a tensão poderá piorar", refere o analista político, para quem não basta apenas haver intenção de diálogo. "É preciso que se criem condições para que esse diálogo possa existir ", reforça.
Transtornos à economia
Os protestos têm causado grandes transtornos à economia. Com as estradas que conectam Maputo a outras regiões e à África do Sul bloqueadas, o trânsito de camiões de carga foi interrompido, afetando o comércio internacional. Lojas e instituições permaneceram fechadas, enquanto a população enfrenta um cenário de incerteza.
Especialistas económicos alertam que, se a crise não for resolvida rapidamente, os impactos serão devastadores, principalmente para as classes sociais mais baixas.
Uma das perguntas que se coloca por estes dias é até que ponto Moçambique conseguirá suportar a tensão antes de encontrar um caminho para a paz e a estabilidade?