Protestos na Libéria contra "má governação" de George Weah
Lusa
30 de dezembro de 2019
Milhares de pessoas são esperadas esta segunda-feira (30.12) nas ruas da Libéria, em protestos contra o Presidente do país, George Weah, cuja administração é acusada de "má governação".
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Segundo a imprensa local, a intenção de realizar a manifestação foi anunciada na semana passada, após uma reunião entre o Governo e o Conselho dos Patriotas (COP, em inglês) - grupo liderado por Henry Costa, feroz crítico de Weah.
De acordo com o diário liberiano Front Page Africa, o COP assinalou que o protesto de hoje é necessário devido "à rígida postura do Governo", que não implementou as recomendações apresentadas em junho por este grupo.
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Mo Ali, um dos responsáveis da COP presente na reunião, referiu ao mesmo jornal que a carta enviada ao Ministério da Justiça para a realização do protesto não apontava que esta fosse uma manifestação para que Weah se demitisse.
"A comunicação feita ao Ministério da Justiça não disse que esta fosse uma campanha para que Weah se afastasse. Mas não há nenhuma traição em pedir ao Presidente que se demita. Só se torna traição quando alguém disser 'eu vou derrubar o Governo'", disse Ali.
"Contraprotesto pacífico"
Um outro grupo, o Conselho Independente dos Patriotas (ICOP, em inglês), considerou que o protesto organizado pelo COP pretende minar a paz e a estabilidade na Libéria, tendo marcado, para a mesma data, um "contraprotesto pacífico".
A embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Monróvia alertou, no dia 26, os cidadãos para a possibilidade destes protestos, admitindo que é possível uma forte presença policial e o corte de estradas.
Nesse sentido, a representação diplomática norte-americana na Libéria aconselhou os cidadãos a evitarem as áreas de protesto, a agirem com cautela, a acompanharem a comunicação social local e a que se mantenham discretos.
Em outubro, as autoridades liberianas encerraram a estação de rádio de Henry Costa, tendo também dispersado os simpatizantes da emissora com gás lacrimogéneo. O tribunal que emitiu a ordem de encerramento acusou a estação Roots FM de incitar à violência e de retirar dinheiro aos liberianos, assim como de efetuar ameaças verbais durante as suas emissões.
George Weah, antiga glória do futebol mundial, chegou à liderança do país em janeiro de 2018 e desde então tem sido alvo de críticas. Uma das principais críticas tem sido a forma como a economia do país tem sido tratada, que levou a uma desvalorização da moeda.
George Weah: De estrela do futebol a Presidente da Libéria
A sua vida dava um filme. O filho de um modesto mecânico tornou-se um futebolista de elite na Europa. Agora foi eleito Presidente da Libéria. A DW África revê a vida de Weah em imagens.
Foto: picture alliance/dpa/AP Photo/A. Dulleh
Uma nova estrela do futebol
Fora da Libéria, Georges Weah é muito mais conhecido como futebolista. Foi mesmo considerado um dos melhores pontas-de-lança da sua geração. O futebol fê-lo escapar a uma vida difícil. Filho de um mecânico, cresceu num dos bairros de lata da capital liberiana. A família mergulhou na pobreza após a prematura morte do seu pai. Felizmente, Weah foi descoberto por um clube liberiano de futebol.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
Dos Camarões a França
George Weah foi o melhor marcador na Libéria em 1987, jogando no Invencible Eleven, a melhor equipa do país, à altura. Quando o seu clube defrontou os camaronenses do Tonnerre Yaoundé, os dirigentes, notando o seu talento, ofereceram-lhe um contrato. Mas a vida nos Camarões não foi fácil. Weah vivia com outros jogadores e teve dificuldades em adaptar-se ao francês, a língua nacional do país.
Foto: DW/M. Edwin
Em grande na Europa
Depois de seis meses nos Camarões, Weah transferiu-se para os franceses do Mónaco em 1988. Era o começo da sua carreira de sucesso na Europa que o levou aos principais clubes e ligas continentais. Foi o melhor futebolista do mundo em 1985 e foi três vezes eleito futebolista africano do ano. O antigo treinador do Milan, Arrigo Sacchi, disse sobre ele que "em cada momento Weah reinventa o futebol".
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O sonho falhado de um Campeonato do Mundo
Mas enquanto Georges Weah tinha sucesso na Europa, o seu sonho de jogar uma fase final de um "Mundial" ficou por concretizar. Em 2002, a Libéria qualificou-se para a CAN no Mali. Weah era o diretor técnico e jogador, mas renunciou após a eliminação na fase de grupos.
Foto: picture-alliance/empics
Combatendo a pobreza e as violações dos direitos humanos
Weah usou o seu sucesso para ajudar os menos afortunados. Em 1997, o fundo das Nações Unidas para as crianças (UNICEF), nomeou-o representante especial para o desporto. Weah doou avultadas quantias para caridade, o que o tornou ainda mais popular no seu país, devastado pela guerra, e com o qual sempre manteve contacto próximo ao longo dos anos.
Foto: AP
Vida familiar
George Weah é casado com Clar, uma cidadã norte-americana com raízes jamaicanas. O casal tem três filhos. O seu filho mais velho seguiu as pisadas do pai como futebolista. Weah deu o nome da sua mulher a uma televisão liberiana que adquiriu: "Ela sempre me apoiou e motivou a fazer algo pelo meu país", referiu Weah à revista alemã "Stern" em 2008.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
2005: candidatura surpresa a Presidente
George Weah teve de lidar com algumas contrariedades após o final da sua carreira. Tornou-se político e candidatou-se às primeiras eleições presidenciais democráticas liberianas depois do final da guerra civil, em 2005. Ficou em segundo lugar, perdendo para o antigo vice-presidente do Banco Mundial Ellen Johnson-Sirleaf, que venceu com 59,4 por cento dos votos. Weah conseguiu 40,6 por cento.
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O trabalho no Parlamento
Depois de uma candidatura sem sucesso para se tornar vice-presidente em 2011, Weah ganhou um lugar no Senado, a câmara alta do Parlamento, em 2014. Bateu o seu maior rival, o filho da Presidente Johnson-Sirleaf, por larga margem, conquistando 78 por cento dos votos. Mas, de acordo com os "media" liberianos, Weah raramente era visto no Parlamento, não dando o seu apoio a nenhuma legislação.
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2017: Segunda tentativa
George Weah tinha já provado ser um lutador na política. Em 2017 ele concorreu de novo à presidência. Enquanto os seus apoiantes continuavam a seguir o líder, a decisão de Weah de escolher Jewel Taylor para o acompanhar chocou quer compatriotas quer estrangeiros. Ela é a ex-mulher de Charles Taylor, antigo Presidente liberiano, condenado em 2012 por crimes de guerra.
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O novo Presidente da Libéria
George Weah venceu a primeira volta das eleições em outubro de 2017. A necessária segunda volta foi adiada pelo Supremo Tribunal liberiano após queixas de fraude interpostas por outra candidatura. Weah venceu a segunda volta, a 26 de dezembro de 2017, com 61,5 por cento dos votos, contra 38,5 do antigo vice-presidente Joseph Bokai, célere a reconhecer a derrota e a congratular Georges Weah.