Protestos no Quénia: "Presidente Ruto tem de sair"
26 de junho de 2025
No Quénia, esta terça-feira (25.06) milhares de pessoas sairam às ruas da capital, Nairobi, e um pouco por todo o país, para assinalar um ano das manifestações antigovernamentais de 2024, que culminaram numa invasão ao Parlamento e confrontos com a Polícia que tiraram a vida a pelo menos seis dezenas de pessoas.
Quis o destino que aspessoas que se juntaram para assinalar a data, fossem brindadas também com repressão policial, e tal como a 25 de junho de 2024, terminou em vítimas mortais e centenas de feridos.
Foram ouvidos tiros e a polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água para tentar dispersar os manifestantes.
O Governo do Quéniaordenou a suspensão da cobertura televisiva em direto e restringiu o acesso à aplicação Telegram, segundo a empresa de monitorização NetBlocks. Ainda assim, a voz dos quenianos fez-se ouvir, como por exemplo, Fedrick Oduor, que disse à agência Reuters, porque é que saiu às ruas de Nairobi, fazendo referência à morte de um professor sob custódia policial no início do mês.
"Estamos a protestar, porque queremos justiça para [Alfred] Ojwang [um bloguista e professor que morreu sob custódia policial no início deste mês], justiça para todos aqueles que foram mortos pela brutalidade policial, é tudo o que pedimos. Exortamos o Governo a deixar-nos manifestar pacificamente em vez de nos expulsar com violência", exigiu.
Excessos da Polícia
De acordo com um comunicado conjunto entre a Sociedade de Direito, o Grupo de Trabalho do Quénia sobre Reformas Policiais - composto pela Amnisita Internacional - e a Associação Médica do Quénia, oito manifestantes foram mortos e 83 dos 400 feridos receberam "ferimentos graves". Nota ainda para três dos feridos eram agentes da polícia e pelo menos oito manifestantes foram tratados por ferimentos de bala.
A presença de grupos armados em motociclos, alegadamente coordenados com a polícia, também gerou preocupação. Na semana passada, manifestantes pacíficos foram atacados por estes grupos. Embaixadas ocidentais, incluindo as do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, condenaram o uso de infiltrados para dispersar protestos pacíficos.
Mas há quenianos que mostram não ter medo de ninguém. Um cidaão disse à DW: "Estamos aqui enquanto geração jovem. Queremos uma revisão completa do sistema, o sistema está podre, o sistema é desonesto e queremos uma revisão completa. Vamos falar, não vamos ter medo e vamos aparecer quando for necessário".
Outro cidadão contou: "Estou aqui para recordar as vidas perdidas dos jovens que vieram expressar o seu descontentamento com o estado de governação do nosso país, a ganância e a corrupção, e foi isso que esteve na base da rejeição da lei das finanças no ano passado".
"Ruto tem de sair"
O Presidente William Ruto, eleito em 2022 com promessas de progresso económico, enfrenta um crescente descontentamento popular.
Apesar de ter recuado em medidas fiscais impopulares, a populaçãocontinua a denunciar corrupção, estagnação económica e repressão. Organizações de direitos humanos contabilizaram mais de 80 desaparecimentos de críticos do regime desde os protestos de 2024, com muitos ainda por localizar.
"Estão envolvidos em execuções extrajudiciais, estão envolvidos em desaparecimentos forçados e estão envolvidos em raptos e sequestros de pessoas. E vimos algumas pessoas aparecerem mortas, por isso isto tem de acabar. Não temos medo de o dizer, vamos dizê-lo com ousadia, vamos dizê-lo com coragem, a brutalidade policial tem de acabar e o (Presidente) Ruto tem de sair", reivindica um manifestante.
O povo queniano que saiu à rua numa só voz é claro: O Presidente William Rutochegou ao fim de linha.