Forças de segurança voltaram a usar gás lacrimogéneo para dispersar novos protestos anti-Governo. União Europeia e organizações de defesa dos direitos humanos condenam uso de "balas reais" contra os manifestantes.
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As forças anti-motim sudanesas dispararam gás lacrimogéneo contra os manifestantes anti-Governo reunidos na capital, Cartum, e na região do Darfur, este domingo (13.01) na sequência de apelo a protestos em todo o país contra o Presidente Omar al-Bashir.
"Liberdade, paz justiça" e "a revolução é a escolha do povo" foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes nas ruas do bairro de Bahari, na capital, antes de serem reprimidos pelas forças de segurança, dizem testemunhas ouvidas pela agência de notícias France Presse.
No Darfur, naqueles que foram os primeiros protestos do género na região, após um apelo da Associação de Profissionais Sudaneses, a polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes que saíram à rua nas cidades de El-Fasher, capital do estado de Darfur do Norte, e Nyala, a capital de Darfur do Sul.
O Sudão é palco de manifestações desde 19 de dezembro, devido à decisão do Governo de triplicar o preço do pão e aumentar o preço do combustível. Agora, os manifestantes pedem a demissão do Presidente, há três décadas no poder.
Entretanto, as autoridades sudanesas atualizaram este sábado o balanço das vítimas dos protestos antigovernamentais, dando conta de 24 mortos nas últimas três semanas.
"O número de pessoas que morreram nos incidentes desde 19 de dezembro até agora é 24", indicou Amer Ibrahim, que dirige uma comissão instituída pelo Ministério Público para investigar os episódios de violência ocorridos nos protestos.
UE e ONG condenam repressão violenta
O anterior balanço era de 22 mortos, incluindo dois membros dos serviços de segurança. No entanto, a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e a Amnistia Internacional apontam para 40 vítimas mortais, incluindo crianças e pessoal médico.
Centenas de manifestações, inicialmente organizadas em pequenas cidades, antes de chegarem a Cartum, foram reprimidas pela polícia anti-motim e agentes de segurança, com recurso a gás lacrimogéneo.
Segundo a União Europeia e organizações humanitárias, as forças de segurança também dispararam "balas reais" contra os manifestantes.
"O uso da força pelas forças de segurança contra civis – incluindo o uso de balas reais – fez novas vítimas nos últimos dias", afirmou a União Europeia na sexta-feira.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos no Sudão condenou igualmente "o uso de balas reais contra os cidadãos". É a primeira vez que um organismo do Governo reconhece este facto, embora o autor dos disparos não seja identificado.
O Presidente responsabiliza "vândalos" e "conspiradores" pela violência das últimas semanas.
Em três semanas de protestos, foram detidas cerca de mil pessoas, incluindo ativistas, líderes da oposição e jornalistas, segundo grupos de defesa dos direitos humanos.
Os organizadores das manifestações lançaram um apelo para protestos quase diários em todo o país, falando numa "Semana de revolta".
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.