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Pós-eleições: "A mudança não há de ser fácil no nosso país"

Nádia Issufo (Maputo)
15 de novembro de 2024

Sociólogo Elísio Macamo considera organização crucial para sucesso dos protestos e defende que manifestações vão além do "chamado" de Venâncio Mondlane e refletem a insatisfação da população com os problemas do país.

Protestos pós-eleições tiveram momento de tensão em Maputo
Inicialmente, protestos pós-eleitorais tiveram adesão e intervenç]ao policial violenta para, mais recentemente, abrandarem Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Em Moçambique, os protestos da quarta fase contra a fraude eleitoral e má governação não tiveram a grande adesão das últimas fases.

Analista entende que não se trata apenas de carência organizacional. Nos protestos, Elísio Macamo defende, por exemplo, a presença de "gente que dê a cara", com um enquadramento político, logística e rotas claras.

Em entrevista à DW, o sociólogo relativiza a hipótese de Mondlane "ter perdido a guerra” e defende que "não se pode reduzir a importância destas manifestações àquilo que VM quer alcançar", mas é preciso avaliar-se as manifestações "sob o pano de fundo dos problemas que o país tem".

DW África: A fraca adesão às manifestações convocadas pelo candidato presidencial independente Venâncio Mondlane serão um sinal de que as suas armas estão a perder força?

Elisio Macamo, analista moçambicano.Foto: DW/J. Beck

Elísio Macamo (EM): Não necessariamente. Acho que o principal problema talvez seja organizacional, porque estas manifestações dependeram muito da espontaneidade e, se forem feitas durante muito tempo, vão precisar de organização no terreno e essa organização é muito difícil. Portanto, não é que as suas armas estejam a perder força. Acho que tem muito a ver com a questão organizacional.

DW África: Que aspetos organizacionais deveriam ser tomados em conta nesta fase?

EM: Eu acho que protestos desta natureza precisam de gente devidamente identificada que os lidera, precisam de uma mensagem previamente discutida e que seja veiculada através de cartazes, precisam de rotas claras e também de um enquadramento, digamos, político.

Tensão em Moçambique: FRELIMO percebeu a mensagem?

31:50

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O que temos vindo a verificar é que há um apelo à manifestação, à paralisação e espera-se que as pessoas adiram pura e simplesmente desta maneira. Faltam, por exemplo, também condições logísticas - como dar água às pessoas. Há um pouco disto, mas não o suficiente. Dar alimentação também porque, afinal, são pessoas que saem de zonas muito distantes. Garantir transporte para essas pessoas. Portanto, todos esses fatores desempenham um papel para o sucesso de uma manifestação. Quer dizer, as pessoas continuam a ter razões para fazerem manifestações, mas sem uma base organizacional sólida é difícil.

DW África: Nesta guerra, a quarta batalha encetada por Venâncio Mondlane está a representar, até agora, uma derrota?

EM: Não sei se podemos chamar a isso de derrota. Se pegarmos os objetivos ambiciosos que ele tem, de tomada de poder, podemos dizer sim que há uma espécie de derrota, embora fosse mais correto dizer que talvez ele, se calhar, perdeu uma ou outra batalha.

Penso que não devemos reduzir a importância destas manifestações àquilo que o Venâncio Mondlane quer alcançar. Temos que avaliar esta manifestações sob o pano de fundo dos problemas que o nosso país tem e que precisa resolver. E, nesse sentido, as manifestações estão a cumprir um certo objetivo que é de trazer à nossa consciência que há problemas sérios que nós andamos a empurrar com a barriga e que precisam ser abordados.

DW África: Caso as manifestações venham a perder gás, definitivamente, quais seriam as armas a serem usadas pelo candidato Venâncio Mondlane para atingir os seus objetivos e os objetivos nacionais que o povo também reivindica?

EM: As armas que deviam ser agora usadas, são as que deviam ter sido usadas logo no início.

DW África: Mas a FRELIMO desvaloriza, normalmente, este tipo de iniciativas de diálogo?

EM: Sim, há sempre este problema. Ninguém tem dúvidas de que estamos a lidar com um regime "democrático", mas que na verdade tem uma cultura política profundamente autocrática. Então, a mudança não há de ser fácil no nosso país. Mas isso não pode ser uma razão para perdermos a fé nas instituições e na legalidade.

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