Protestos: "População vai viver os danos colaterais"
12 de novembro de 2024Em Moçambique, o candidato presidencial Venâncio Mondlane anunciou nova ondas de protestos contra as mega fraudes eleitorais e contra os abusos do poder político, a partir desta quarta-feira (13.11).
Em entrevista à DW, o sociólogo Hélder Jauana reconhece que o levante popular é um mecanismo de pressão, mas alerta sobre as consequências para a população. Dos possíveis benefícios, Hélder Jauana fala em "ganhos para os políticos", mas em "danos colaterais" para a população já empobrecida.
"Não haverá diálogo bem sucedido se não forem respeitadas as instituições de justiça". alerta.
DW África: Que impacto poderá ter mais uma onda de manifstações no país?
Hélder Jauana (HJ): É o impacto de uma onda de greve, de uma paralisação, tal como a que já tivemos. Não sou economista, mas vai colocar o país em dificuldades extremas. Quem anda pela cidade de Maputo, já andou pelos mercados, pelos centros comerciais, sentiu que a cidade depende muito da economia sul-africana. Então vamos ter muitas famílias em dificuldade, vamos ter muita gente em aflição.
DW África: E como mecanismo de pressão para o partido no poder, também terá o seu impacto?
HJ: Impactos têm sempre, mas há algo maior, que é a vida das pessoas. Moçambique é um país pobre, muito pobre. Naturalmente que [os protestos] são uma forma de pressão política, mas as consequências sociais disso teremos de analisar mais tarde com muita frieza. Já há famílias em desespero de causa, já há famílias a perderem familiares, gente que precisa de assistência médica. Há ganhos para os políticos, porque os acordos são semprepolíticos, e a população vai viver os danos colaterais disso e muitas famílias vão sofrer.
DW África: E é assim nesse sentido, que pode acelerar a reposição da verdade eleitoral ou até de um diálogo entre as partes antagónicas?
HJ: A questão do diálogo é muito importante. As sociedades, principalmente as democracias consolidadas que nós usamos como referência, só existem porque existem instituições. Não haverá nenhum diálogo útil e que vai contribuir para a consolidação do Estado em Moçambique, das instituições democráticas, onde o diálogo não respeite as instituições que existem.
DW África: O momento é de trégua, mas vem numa incógnita em relação ao diálogo reconciliador. É um assunto que está envolto de algum secretismo, como é que acha que deveria decorrer esse processo?
HJ: Vai haver muitas opiniões, no entanto, quem faz o diálogo são os políticos. Tenho dito que o que nós vimos dos políticos é o manifesto, mas em política interessa perceber o que acontece nos bastidores, e nós não sabemos o que é que está a acontecer nos bastidores. Os políticos aparecem publicamente, dizem algo, não sabemos se há corredores que estão a acontecer de contacto entre as diferentes forças políticas.Não sabemos. O tempo dirá se há este movimento. Não creio que todos estejam somente a esticar a corda à espera que alguém se canse.