Anunciada saída da ECOMIB da Guiné-Bissau causa preocupação
Braima Darame (Bissau)
28 de abril de 2017
A força de interposição da paz da CEDEAO (Ecomib) não começou a sair esta sexta-feira (28.04) da Guiné-Bissau, como tinha sido anunciado, por falta de orientações nesse sentido. Crise política continua no país.
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"Só Deus poderá salvar a Guiné-Bissau! Amém".
Em Bissau, bispos, pastores e imãs rezaram em conjunto. Num mesmo palco, de braços levantados para o céu, olhos fechados e cabeça erguida, os líderes religiosos pediram estabilidade política, paz e bem-estar para o povo guineense.
A mais longa crise política na história da democracia do país continua sem fim à vista. Esta semana, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) deu um prazo de 30 dias para implementar o Acordo de Conacri. Mas, até agora, não foi agendado nenhum encontro entre as forças políticas para acabar, de vez, com a crise no país. E o chefe de Estado, José Mário Vaz, está em viagem pela Guiné-Bissau, em Presidência Aberta.
Assim, fiéis católicos, muçulmanos, evangélicos, adventistas, a Missão Batista, a Igreja Universal do Reino de Deus e animistas reuniram-se no segundo maior campo de futebol da capital, para rezar.A iniciativa contou com o apoio da União Europeia.
Saída da ECOMIB causa preocupação
Esta sexta-feira (28.04.), devia ter iniciado o processo de retirada da força de manutenção de paz da CEDEAO, mas não aconteceu por falta de orientações nesse sentido, segundo disse fonte do contingente em Bissau.
Recorde-se que uma missão ministerial da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) esteve em Bissau até terça-feira (25.04), tendo reiterado junto das autoridades guineenses a intenção de a força da Ecomib iniciar o processo de retirada a partir desta sexta-feira (28.04.). O processo deverá estar concluído até ao dia 30 de junho.
Composta inicialmente por 800 militares do Senegal, Nigéria, Togo e Burkina Faso, a ECOMIB tem agora pouco mais de 500 efetivos no país.
Para muitos guineenses, a retirada da ECOMIB demonstra que a paciência da CEDEAO chegou ao fim, face ao incumprimento do Acordo de Conacri.
Na imprensa local, vários observadores têm-se mostrado preocupados com um possível aumento da violência no país e temem, inclusive, um novo golpe de Estado. Mas, aos microfones da DW África, o antigo chefe das Forças Armadas, Afonso Té, diz que confia piamente nos militares guineenses. "Eu penso que não haverá golpe de Estado. As forças armadas já deram provas da sua equidistância das querelas políticas. Isso já é um bom sinal", afirma Afonso Té.
Mulheres exigem participação
As Nações Unidas acreditam que a solução da crise política está nas mãos dos guineenses. Esta semana, um grupo de mulheres guineenses entregou no Gabinete Integrado da ONU para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau um memorando para que sejam envolvidas na tomada de decisões. E segundo o representante adjunto da ONU no país, Marco Carmignari "é necessário que às mulheres proponham, apresentem e promovam estratégias inovadoras com vista a melhor engajar os atores políticos e a comunidade internacional. A solução para a crise na Guiné-Bissau está nas mãos dos guineenses e em particular nas mulheres", disse Marco Carmignari.
28.04.2017 Guiné-Bissau - MP3-Mono
Com o relógio em contagem decrescente para implementar o Acordo de Conacri, o partido Patriótico Guineense, força política extraparlamentar, espera mais clareza da CEDEAO para saber quem não está a cumprir o acordo e que tipo de sanções serão aplicadas, quando o prazo de 30 dias terminar. É o que questiona Halen Napoco, um responsável do partido. "A CEDEAO enquanto organização mandatária para mediar a crise tem que esclarecer não só ao povo guineense bem como a Comunidade internacional quem não está a cumprir com o acordo. A nosso ver, enquanto partido político, está bem patente, que é o Presidente da República que não está a cumprir. A CEDEAO tem que ser capaz de maior firmeza e mais concreta na sua posição e explicar que tipo de sanções irá aplicar a quem não cumprir o Acordo de Conacri no prazo de 30 dias", sublinha Halen Napoco.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.