Vladimir Putin já tomou posse como Presidente da Rússia para um quarto mandato, que deverá prolongar-se até 2024. Especialistas avisam que o atual estilo de governação, cada vez mais autoritário, veio para ficar.
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A cerimónia desta segunda-feira (07.05) foi semelhante às outras três que ocorreram nas duas últimas décadas, num salão adornado com ouro, no Grande Palácio do Kremlin. "Considero como meu dever e como o sentido da minha vida fazer tudo o que me for possível pela Rússia, pelo seu presente e pelo seu futuro", disse Vladimir Putin.
Com a mão direita sobre a Carta Magna, Putin jurou "respeitar e defender os direitos e as liberdades das pessoas e dos cidadãos, cumprir e defender a Constituição da Federação da Rússia, defender a soberania e a independência, a segurança e a integridade territorial do Estado e servir o povo com lealdade".
Reeleito em março com 76,7% dos votos, o seu melhor resultado desde que alcançou o poder, Vladimir Putin, de 65 anos, está no comando da Rússia desde o ano 2000, seja como chefe de Estado ou de Governo.
"Farei tudo para aumentar o poder, a prosperidade e a glória da Rússia", disse na cerimónia em Moscovo, à qual assistiram mais de 6.000 convidados.
O Presidente russo também prometeu apostar numa agenda económica que melhore os níveis de vida em todo o país, na sequência de uma recessão económica em parte ligada a sanções internacionais.
Apesar de ter recuperado a proeminência da Rússia no palco mundial pela via militar, Putin tem sido criticado por não ter conseguido diversificar a economia russa, muito dependente das exportações de gás e petróleo, e por não desenvolver o setor industrial.
Política cada vez mais autoritária
O novo mandato de Putin deverá ser marcado por uma característica em particular: "continuidade", acredita Gernot Erler, do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), antigo representante do Governo alemão encarregado das relações com a Rússia.
"Receio que a destruição da margem de manobra democrática continue", afirma também Martin Schulze Wessel, especialista em História da Europa de Leste e professor na Universidade Ludwig Maximilian, em Munique. Além disso, acrescenta, "a luta contra a corrupção também não deverá ser bem-sucedida."
Nos últimos anos, foram evidentes os resultados do governo autoritário de Putin na política interna: restrições à liberdade de reunião, intimidação da sociedade civil e maior controlo da internet e das redes sociais.
"O sistema irá tornar-se cada vez mais autoritário", afirma o especialista alemão Manfred Hildermeier, segundo o qual "Putin quer mostrar ao mundo uma cortina de fumo democrática".
Oposição sem espaço
Os especialistas concordam que é improvável que na Rússia de hoje aconteça uma insurreição contra Putin - como aconteceu nas antigas repúblicas soviéticas da Geórgia e Ucrânia ou atualmente na Arménia.
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Na última corrida presidencial participaram dois candidatos da oposição, Grigory Yavlinsky e Ksenia Sobchak, que se apresentaram como "representantes da oposição liberal". O líder da oposição extraparlamentar russa, Alexei Navalny, foi impedido de concorrer à presidência e apelou ao boicote eleitoral.
No sábado (05.05), dois dias antes da tomada de posse de Vladimir Putin, Alexei Navalny chegou a estar detido várias horas, acusado de resistência à polícia e de organizar uma manifestação não autorizada em Moscovo.
O dia ficou marcado por protestos em 20 cidades russas, que terminaram com a detenção de mais de 1.000 pessoas. O protesto nacional, organizado sob o mote "Ele não é o nosso czar", foi promovido por Navalny.
Economia: "calcanhar de Aquiles" de Putin
A continuidade dos protestos deverá depender do desenvolvimento económico do país, dizem analistas. Depois da crise de 2014, provocada principalmente pela queda do preço do petróleo e, em parte, pelas sanções ocidentais aplicadas após a anexação da Crimeia, Putin conseguiu estabilizar a economia russa.
Essa estabilidade, no entanto, está ameaçada pelas recentes sanções - mais duras - dos Estados Unidos da América (EUA). "O calcanhar de Aquiles de Putin é a economia, assim como a competitividade económica a nível internacional", considera o especialista Manfred Hildermeier.
E nos próximos anos, a situação económica na Rússia deverá complicar-se, prevê Stefan Meister, do Conselho Alemão de Relações Externas (DGAP). "Haverá menos dinheiro para pensões, para o bem-estar social e até mesmo para os militares", afirma. Por isso, refere, a política interna terá um papel cada vez mais importante durante o quarto mandato de Putin.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".