Putin garante que Rússia alcançará objetivos na Ucrânia
DW (Deutsche Welle) | com agências
21 de fevereiro de 2023
Num discurso em Moscovo que antecede o aniversário de um ano da invasão russa da Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin garantiu que Moscovo alcançará os seus objetivos "passo a passo". E culpou o Ocidente pela guerra.
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"Para garantir a segurança do nosso país, para eliminar a ameaça representada pelo regime neonazi que surgiu na Ucrânia após o golpe de 2014, foi decidido realizar uma operação militar especial", disse Vladimir Putin em Moscovo, a três dias de ser assinalado o primeiro aniversário da ofensiva militar russa na Ucrânia, iniciada na madrugada de 24 de fevereiro de 2022.
O dia escolhido para o discurso, o primeiro sobre o Estado da Nação que fez em quase dois anos, coincide com a data em que Vladimir Putin assinou o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, na região do Donbass, no leste ucraniano.
O Kremlin não autorizou meios de comunicação social de países considerados como "inimigos" a obter acreditação para fazer a cobertura mediática do discurso.
As forças russas têm lutado para ganhar vantagem no conflito desde que invadiram o país há um ano. A guerra já matou milhares de pessoas, deslocou milhões e reduziu muitas cidades a escombros.
O que disse Putin?
No discurso perante os membros das duas câmaras do parlamento e comandantes militares, Putin expôs as suas últimas considerações sobre a guerra. "Falo-vos num momento difícil e decisivo para o nosso país, num momento de profundas mudanças em todo o mundo", disse.
O líder russo afirmou que a Rússia luta para "libertar" o povo e que os ucranianos "são reféns do seu [próprio] regime".
Putin prometeu prosseguir "sistematicamente" com a ofensiva de Moscovo na Ucrânia: "Passo a passo, com cuidado e consistentemente, alcançaremos os objetivos com que nos deparamos."
O Presidente da Rússia também culpou o Ocidente por ter iniciado o conflito na Ucrânia, dizendo que os países ocidentais, liderados pelos EUA, procuram "poder ilimitado" nos assuntos mundiais.
"A responsabilidade por alimentar o conflito ucraniano, pela sua escalada, pelo número de vítimas cabe completamente às elites ocidentais", disse.
Putin quer libertar Donbass, Zelensky quer a Crimeia
06:05
Moscovo "fez tudo o que era possível, verdadeiramente tudo o que era possível, a fim de resolver este problema [na Ucrânia] por meios pacíficos", disse ainda Putin, "mas um cenário completamente diferente estava a ser preparado nas nossas costas", sublinhou.
O Presidente russo também acusou o Ocidente de querer impor à Rússia uma "derrota estratégica" na Ucrânia e acabar com o país "de uma vez por todas".
Porque é que o discurso é importante?
Esperava-se que o discurso de Putin desse o tom para as eleições presidenciais na Rússia, marcadas para pouco mais de um ano. As recentes mudanças constitucionais significam que uma pessoa de 70 anos pode permanecer no poder até 2036.
O discurso chega também numa altura em que a economia russa está sob pressão significativa devido às sanções impostas pela União Europeia (UE) e os seus aliados, que tem levado ao aumento dos preços e a perspetivas sombrias no país.
Este foi o 18º discurso de Putin perante a Assembleia Federal, destinado a delinear o estado e as perspectivas da nação. O seu último discurso foi em abril de 2021, antes da Rússia invadir a Ucrânia. O chefe de Estado não se dirigiu ao parlamento em 2022.
As forças russas sofreram três grandes reviravoltas no campo de batalha desde que a guerra começou, mas ainda controlam cerca de um quinto do território ucraniano.
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".