O ataque de Israel ao Hamas no Qatar pode levar à guerra?
11 de setembro de 2025
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahum disse que o ataque no Qatar foi "totalmente justificado", dado que o Hamas organizou o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 contra Israel, que matou mais de 1.200 pessoas e fez cerca de 250 reféns. Netanyahu também relacionou o ataque com o tiroteio na Jerusalém Oriental, que matou seis pessoas na segunda-feira (08.09).
Por seu lado, o Hamas — um grupo militante islâmico, classificado como organização terrorista por Israel, os EUA, a UE e muitos outros — apenas confirmou que Himam al-Hayya, filho do principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya, foi morto.
De acordo com a agência de notícias AFP, Khalil al-Hayya e o líder do Hamas no estrangeiro, Khaled Meshaal, também se encontravam no edifício que foi alvo do ataque. A AFP disse que não conseguiu entrar em contacto com nenhum dos dois.
Diplomacia ou escalada militar?
Sanam Vakil, diretora do Programa do Médio Oriente e Norte de África do think tank Chatham House, com sede em Londres, explica que "o ataque é um alerta para toda a região, onde as fronteiras das parcerias e alianças tradicionais estão a ser redefinidas".
A investigadora da Chatam House entende que "os Estados do Golfo sabem que as suas parcerias com os Estados Unidos [o aliado mais forte de Israel] são importantes do ponto de vista económico e de segurança, por isso é difícil imaginar uma ruptura ou cisão imediata".
O Qatar e os EUA, que são o parceiro mais importante de Israel e um forte apoiante da sua atual guerra em Gaza, também são aliados estratégicos. O Qatar abriga a maior base militar dos EUA na região e utiliza sistemas de defesa aérea norte-americanos.
Donald Trump disse aos media americanos que não estava "muito entusiasmado" com o ataque. Também afirmou numa publicação nas redes sociais que não tinha sido notificado com antecedência sobre o ataque ao Qatar. O Presidente dos EUA disse que "foi uma decisão tomada pelo primeiro-ministro israelita Netanyahu" e que não foi uma decisão sua.
Ainda assim, Trump salienta que eliminar o Hamas continuava a ser um "objetivo válido".
O ataque de segunda-feira (08.09) a Doha também interrompeu a última ronda de negociações sobre um cessar-fogo em Gaza e a possível libertação dos reféns detidos pelo Hamas após quase dois anos de guerra.
O primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman, disse aos jornalistas que o Catar não se deixaria intimidar pelo ataque. A posição estabelecida do Qatar como negociador-chave entre Israel e o Hamas baseia-se nas suas ligações únicas com ambos os lados do conflito.
As relações pragmáticas entre Qatar e Israel
Na opinião de Neil Quilliam, os laços do Qatar com o Hamas podem ser melhor descritos como uma relação de trabalho.
"O Qatar está mais inclinado, sem pudor, para as expressões do Islão político na região, por isso estaria mais inclinado a trabalhar com o Hamas do que outros Estados da região", argumenta.
No entanto, ressaltou que, embora o Qatar respeitasse o Hamas como um movimento político e de resistência, não tinha endossado publicamente o controle exclusivo do Hamas sobre Gaza.
A posição do Qatar tem sido geralmente apreciada por Israel, que construiu confiança nas habilidades de negociação do Qatar ao longo do tempo.
No entanto, o Qatar e Israel não estabeleceram relações formais, embora tenham mantido relações pragmáticas desde a década de 1990.
Para o Governo de Netanyahu, manter o Qatar na mesa de negociações é importante, pois há uma pressão crescente dentro de Israel e no exterior para acabar com a guerra na Faixa de Gaza desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas a 7 de outubro de 2023.