Quénia: Governo ameaça cortar internet antes das eleições
James Shimanyula | vr
19 de julho de 2017
Autoridades no Quénia ameaçam cortar o acesso às redes sociais durante as eleições gerais, que terão lugar na primeira semana de agosto e alertam utilizadores para não divulgarem os seus resultados.
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A três semanas das eleições gerais no Quénia, marcadas para 8 de agosto, o Governo está a tomar medidas de segurança para garantir que as votações decorram num ambiente justo e pacífico. Ao mesmo tempo, as redes sociais são inundadas com comentários alinhados etnicamente.
O ministro do Interior no Quénia, Fred Mantiangi, confirma que o Governo está "preparado para bloquear o acesso às redes sociais". "Não vamos negociar a estabilidade do país, nem vamos negociar a paz", justifica.
O ministro queniano alerta ainda os cidadãos que "quem quer que cometa crimes, independentemente do seu lugar na sociedade ou daquilo que faça, vai ser prontamente detido e vamos agir de forma firme". Mantiangi reforça que o Governo não se irá desviar deste caminho: "a lei protege-nos e obriga-nos a fazer isto".
Reforçando as declarações de Matiangi, o presidente da Comissão queniana para a Coesão e Integração, Francis Kaparo, considera que "há pessoas terríveis nas redes sociais, que apenas querem causar ansiedade por todo o país".
Cerco apertado à medida que se aproximam as eleições
"Estamos a ir atrás de vocês, porque queremos salvar este país. Estamos a aplicar medidas duras junto daqueles que dão mau uso às redes sociais. Vão ser bloqueadas. É esta a minha posição. É isto que eu acho que deve ser feito", afirma Francis Kaparo.
quénia
Francis Wangusi, diretor geral da Autoridade para as Comunicações no Quénia, também defende que quem não utiliza de forma correta as redes sociais "não tem onde se esconder", uma vez que o Governo conseguirá sempre saber "onde estão". "A internet funciona para os quenianos, mas não a utilizem para divulgar resultados falsos", avisa.
À medida que os quenianos aguardam a realização das eleições, ativistas têm vindo a tecer vários comentários.
Abdulrahman Masumbuko critica a intenção do Governo. Para o ativista, este é o momento certo para as autoridades ouvirem os cidadãos. "As pessoas no Quénia dependem muito da internet, das redes sociais. Por isso, acho que devem ter a oportunidade de saber o que se passa através delas, em vez de [o Governo] bloquear tudo", afirma Masumbuko. "Acho que o Governo devia ser mais inteligente em relação a este assunto", conclui.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.