Quénia: Oposição demarca-se do pacto entre Odinga e Kenyatta
Lusa | tms
10 de março de 2018
A Super Aliança Nacional (NASA) diz que o "pacto pelo país" firmado entre Raila Odinga e o Presidente Uhuru Kenyatta não foi comunicado aos demais membros da coligação.
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De acordo com a agência de notícias Lusa, citando o jornal Daily Nation, do Quénia, o colíder da NASA, Musalia Mudavadi, demarcou-se, este sábado (10.03), do acordo para solucionar a crise política que o país atravessa desde as eleições de agosto. O acordo foi anunciado na sexta-feira pelo líder Raila Odinga e pelo Presidente Uhuru Kenyatta.
Segundo Mudavadi, "a reunião foi entre duas pessoas, individualmente" e "não tem o apoio de toda a NASA, como deveria ser", ressaltou.
A reunião também foi criticada pelo advogado opositor Miguna Miguna, que foi detido por participar na autoproclamação de Odinga e repatriado para o Canadá, país de que possui também nacionalidade.
Ainda na sexta-feira, Miguna disse que este acordo é uma traição para todos os falecidos nos protestos pós-eleitorais, que ele mesmo quantificou em 380 pessoas.
Jubileu reconhece acordo
Entretanto, a coligação do Governo, o Jubileu, reconheceu o acordo e considerou-o "um movimento político significativo e valente", segundo declaração do secretário-geral, Rapahael Tuju.
Personalidades da comunidade internacional também felicitaram o anúncio de Raila Odinga e Uhuru Kenyatta, como foi o caso do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, e do scretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson.
Tillerson, que fez escala no Quénia durante uma viagem por África, disse na sexta-feira, numa conferência de imprensa, que "ambos os homens mostraram um grande sentido de liderança ao assinar em conjunto o acordo", concedendo-lhes o crédito da reunião, perante as perguntas dos jornalistas sobre a coincidência do acordo e da sua visita.
Para Faki Mahamat, a declaração conjunta "constitui um passo muito encorajador para a reconciliação nacional e apelou a todos os dirigentes quenianos que apoiem este processo".
Eleições
As eleições de 8 de agosto de 2017 foram vencidas por Kenyatta, mas foram impugnadas pelo líder opositor. A votação foi repetida a 26 de outubro, mas foi boicotada pela oposição, pelo que Kenyatta ganhou com 98% dos votos.
Até agora, Odinga não tinha reconhecido como válidas as eleições de outubro nem o resultado da votação de agosto, dos quais assegura ser o verdadeiro vencedor com supostos resultados alternativos que lhe dariam 8,1 milhões de votos, face aos 7,8 milhões que alegava terem sido obtidos por Kenyatta, reeleito para um segundo mandato.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.