O Presidente queniano fez um apelo aos políticos: é preciso parar com o “espetáculo” e regressar ao trabalho. Uhuro Kenyatta fez o apelo em alusão aos descontentamentos da oposição em relação às controversas eleições.
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O país ainda vive uma certa tensão política. E é neste contexto que o Presidente Uhuro Kenyatta, durante uma visita a Kajiado, nas imediações de Nairobi, fez o apelo: "Seja qual for a forma como olharmos para isto, as eleições já terminaram. As pessoas do Quénia já escolheram os seus líderes. Eles agora esperam que vocês, os seus líderes, não se distraiam com jogos ou espectáculos e que foquem os seus esforços na construção da nação”.
No mês passado, o líder da oposição Raila Odinga declarou-se "presidente do povo", em protesto contra a reeleição de Kenyatta no ano passado. A cerimónia reuniu dezenas de milhares de apoiantes na capital, Nairobi. Para Raila Odinga, o sufrágio foi "manipulado”.
A resposta do Governo foi imediata: considerou a Super Aliança Nacional uma organização terrorista e abriu vários processos contra figuras presentes na cerimónia por suspeita de conspiração.
Foi o caso de Miguna Miguna, um membro da oposição, que foi detido e entretanto deportado por assistir à cerimónia de tomada de posse de Raila Odinga como líder do povo. Miguna Miguna foi ainda acusado de traição à pátria.
Opositor obrigado a sair do país
Num comunicado, o opositor declara que o Governo em Nairobi é déspota e ilegal e informa que foi obrigado a embarcar num voo noturno da KLM em direção a Amsterdão. Daí seguiu depois para o Canadá, onde em 1987 já tinha recebido asilo político.
Aos jornalistas, o advogado John Khamingwa garante que Miguna Miguna deverá voltar ao país de forma livre.
"Tudo indica que o tribunal será firme e o nosso cliente regressará ao país. Ele pertence aqui, ele não é do Canadá. A sua família está aqui, as suas raízes estão neste país e não no Canadá. O que aconteceu é uma situação deplorável e desprezível", considerou o advogado.
Uhuro Kenyatta é considerado inimigo
Quénia: Oposição queixa-se de repressão
Recorde-se que no início deste mês, Miguna Miguna deu uma conferência de imprensa em que voltou a acusar Uhuro Kenyatta de usurpar o poder: "Nós não queremos mais nada que não seja o poder. O nosso poder que estes déspotas nos tiraram à força. Nós somos o povo e ninguém vai ditar o que quer que seja sobre nós. Qualquer pessoa que empunhar um retrato de Uhuro Kenyatta é um inimigo para nós. Considerá-lo-emos um membro da junta, dos ilegítimos usurpadores de poder”.
A principal coligação da oposição, a Super Aliança Nacional, continua a argumentar que Odinga ganhou as presidenciais de agosto de 2017 - impugnadas com êxito no Supremo Tribunal.
Este partido da oposição considera que o seu candidato obteve 8,1 milhões de votos, mais do que os 7,8 milhões do Presidente. No entanto, a coligação boicotou a repetição das eleições, em outubro de 2017. A abstenção dos votantes fez com que Kenyatta, em funções desde 2013, ganhasse com 98% dos votos.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.