Quénia: Polícia reprime protesto contra Comissão Eleitoral
Andrew Wasike | AP | tm
26 de setembro de 2017
Polícia queniana usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que pediam reforma da Comissão Eleitoral que anulou as presidenciais que davam vitória ao Presidente cessante Uhuru Kenyatta.
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A controvérsia sobre quem deve conduzir as eleições presidenciais no Quénia continua. Nesta terça-feira (26.09), a polícia queniana usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes reunidos em frente à sede da Comissão Eleitoral.
A polícia lançou gás lacrimogéneo após empurrões e tumulto entre os apoiantes da oposição, de Raila Odinga, e os que defendem o partido no poder, do Presidente Uhuru Kenyatta. Os primeiros exigem a demissão de membros da Comissão Eleitoral, enquanto os segundos querem a manutenção do corpo eleitoral, segundo o membro da oposição Cyrus Okemwa.
As novas presidenciais foram marcadas para 26 de outubro, após o Supremo Tribunal do país ter invalidado, no início deste mês, a vitória do Presidente cessante Uhuru Kenyatta nas eleições de 8 de agosto.
Oposição: novos membros na Comissão Eleitoral
Os simpatizantes da Super Aliança Nacional (NASA, sigla em inglês) reinvidicam a saída de pelo menos 12 membros da Comissão Eleitoral. Margaret Nganyi foi uma das cidadãs que saiu à rua para protestar: "Estou aqui em frente à Comissão Eleitoral porque os nossos votos foram roubados, não há respeito pelo voto dos quenianos".
Deputados da oposição afirmam que membros de um grupo considerado ilegal no país terão sido levados para a manifestação a fim de causar tumulto e prejudicar os líderes da oposição.
O ex-vice-Presidente, Kalonzo Musyoka, disse que os agentes da Polícia destacados para garantir a segurança do líder da oposição, Raila Odinga, foram retirados antes dos protestos.
A cidade de Kisumu foi palco de vários protestos pacíficos contra a Comissão Eleitoral que juntaram centenas de pessoas.
Supremo Tribunal
O Supremo Tribunal invalidou a vitória de Kenyatta por considerar que a Comissão Eleitoral não conseguiu verificar os resultados, além de apontar evidências de irregularidades na contagem de votos.
O Presidente Kenyatta defende que a Comissão Eleitoral não deva ser alterada. Já o líder da oposição, Raila Odinga, acusa comissários eleitorais de serem cúmplices da fraude eleitoral e, por isso, devem ser demitidos e julgados.
Entretanto, Odinga já rejeitou as reformas sugeridas pelo corpo eleitoral, incluindo a permissão para a oposição monitorizar os computadores das eleições. A proposta consentia, ainda, a compra de boletins de voto pelas Nações Unidas.
O líder da oposição diz que o grupo de fornecedores e conspiradores contra ele nas primeiras eleições, em agosto, permanece o mesmo e que deve ser substituído para que as próximas eleições sejam, enfim, justas. Odinga acusa de conspiração a empresa de comunicação Safaricom, uma das mais bem-sucedidas da África Oriental, e a francesa OT Morpho.
O legislador da oposição recém-eleito, Paul Ongiki, também conhecido como Babu Owino, foi acusado de subversão por alegadamente se ter referido ao Presidente Uhuru Kenyatta como "filho de um cão" durante a campanha, na semana passada. Promotores disseram ao tribunal que essas acusações têm uma sentença de sete anos e seis meses.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.