Quénia: Protesto após assassinato em vésperas de eleições
Sarah Steffen | Andrew Wasike | Lusa | mjp
2 de agosto de 2017
Quenianos saíram à rua em protesto, na terça-feira, depois do assassinato do responsável pela gestão do sistema informático da Comissão Eleitoral. Aumentam os receios em torno das eleições de 8 de agosto.
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O corpo do funcionário da Comissão Eleitoral queniana (IEBC), Christopher Msando, foi encontrado no sábado (29.07) com sinais de tortura numa floresta nos arredores da capital, Nairobi. Dezenas de manifestantes exigiram que o caso seja investigado imediatamente.
"Estamos a marchar hoje porque a morte de Chris Msando, o gestor das tecnologias de informação da Comissão Eleitoral, teve motivos políticos. A uma semana das eleições, o mínimo que podemos esperar é a segurança dos responsáveis da Comissão Eleitoral", disse um manifestante esta terça-feira (01.08).
No "canto da liberdade" do Parque Uhuru, em Nairobi, os manifestantes gritaram slogans de protesto, criticando a passividade do Governo perante o homicídio de Msando. George Kegora, diretor executivo da Comissão dos Direitos Humanos do Quénia, foi um dos organizadores do protesto e teme que os responsáveis pela morte de Msando escapem impunes.
"Não há qualquer expectativa de que os culpados sejam encontrados ou detidos, porque isso nunca aconteceu no passado recente. Infelizmente, Chris Msando morreu e não vai acontecer nada", lamentou.
Em declarações aos manifestantes, Kegora sublinhou que muitos quenianos acreditam que elementos próximos do Estado podem estar por trás da morte de Msando. O diretor da Comissão de Direitos Humanos quer que as forças de segurança acelerem as investigações e detenham os responsáveis.
Quénia: Protesto após assassinato em vésperas de eleições
"Duro golpe" antes das eleições
O Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, manifestou-se "profundamente chocado" com a tortura e assassinato de Christopher Msando. O chefe de Estado afirmou que a investigação deve "prosseguir calmamente" e avisou contra a "especulação irresponsável".
Para a Comissão Eleitoral, a morte do responsável pela gestão do sistema informático é um duro golpe: "Perdi um funcionário que costumava consultar todos os dias. Estamos de luto com a família", afirmou o presidente da IEBC, Wafula Chebukati, que acredita que a morte de Msando está relacionada com a posição que ocupava.
Chebukati garante, porém, que os sistemas da Comissão estão seguros. "Quem quer que o tenha torturado não conseguirá encontrar nada útil", acrescentou. O presidente da IEBC prevê divulgar os resultados das eleições, tal como esperado, a 8 de agosto.
A coligação da oposição, a Super Aliança Nacional, condena a morte de Christopher Msando e pede ao Governo que garanta mais segurança aos políticos e funcionários eleitorais durante o processo. A Aliança acusa o Presidente Uhuru Kenyatta de querer manipular as eleições, numa altura em que aumentam os receios de violência. A recandidatura de Kenyatta é fortemente contestada.
Em 2007, as eleições no Quénia, denunciadas como fraudulentas pelos observadores internacionais, geraram confrontos violentos que levaram à morte de mais de mil pessoas.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.