O Quénia vai novamente a votos a 17 de outubro. Os quenianos vão escolher, mais uma vez, o próximo Presidente do país, depois de o Supremo Tribunal anular a eleição de 8 de agosto devido a "irregularidades".
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Segundo o presidente da Comissão Eleitoral do Quénia, Wafula Chebukati, as novas eleições decorrerão 40 dias depois da decisão do Supremo Tribunal, anunciada na semana passada, de anular o escrutínio de agosto.
O anúncio do tribunal surpreendeu o próprio Presidente Uhuru Kenyatta, que tinha sido dado como vencedor com 54% da votação, com uma diferença de um milhão e 400 mil votos do líder da oposição, Raila Odinga.
Mas a oposição contestou. Odinga e a Super Aliança Nacional alegaram "fraude" em cerca de um terço dos 15 milhões e meio de votos. O líder da oposição apelou a uma greve nacional que foi violentamente reprimida pela polícia, causando a morte de mais de 20 pessoas.
Decisão "corajosa"
Os observadores eleitorais declararam as eleições como livres, pacíficas e justas. Mas, segundo Susan Muriungi, da fundação política alemã Konrad-Adenauer em Nairobi, as missões internacionais de observação pareciam mais focadas em manter a ordem após o derramamento de sangue que se seguiu às eleições de 2007, em que morreram mais de 1200 pessoas.
"Os problemas que surgiram foram profundos e não é fácil para um observador entender, a menos que preste especial atenção aos dias que se seguiram à votação", afirma Muriungi. "Os observadores não estiveram no terreno tempo suficiente para identificar os problemas que conhecemos."
O analista queniano Martin Oloo afirma, por isso, que a decisão do Supremo Tribunal do Quénia foi corajosa.
Quénia repete eleições a 17 de outubro
"O tribunal mostrou que, quando somos fortes e corajosos, conseguimos reafirmar os princípios constitucionais e o Estado de Direito. Nesta situação, os vencedores são a Justiça, o Estado de Direito e o espírito do constitucionalismo", diz.
De acordo com o especialista, o Quénia pode servir de exemplo a outros países do continente, onde os tribunais têm uma longa tradição de corrupção e são muitas vezes vistos como uma extensão dos Governos.
"África ainda é o lar de homens como [o Presidente do Zimbabué, Robert] Mugabe. Temos problemas de liderança em África. Com a decisão do Quénia houve progresso. Nunca se registou o caso de uma eleição anulada e o Quénia fê-lo", lembra Oloo.
O presidente da União Africana, o chefe de Estado da Guiné-Conacri, Alpha Condé, classificou a decisão inédita de anular o escrutínio e repetir a eleição como uma "honra para África". A Comissão Eleitoral queniana prometeu melhorar o sistema de apuramento dos resultados.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.