Quénia: Vários feridos na tomada de posse do Presidente
Lusa | Reuters | AFP | tms
13 de setembro de 2022
O novo Presidente do Quénia, William Ruto, tomou posse esta terça-feira (13.09). Dezenas de pessoas ficaram feridas quando uma multidão tentou forçar as entradas do estádio de Nairobi onde decorreu a cerimónia.
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William Ruto tornou-se oficialmente hoje o quinto Presidente do Quénia, numa cerimónia de tomada de posse que marcou o fim de semanas de controvérsia, após uma eleição renhida, mas pacífica na maior economia da África Oriental.
O evento foi acompanhado por dezenas de milhares de pessoas e ficou marcado por um tumulto no início da manhã, com os cidadãos a tentarem forçar a entrada no estádio onde aconteceria a cerimónia em Nairobi.
Com uma das mãos repousada sobre a Constituição e a outra a segurar uma bíblia, o novo chefe de Estado, com 55 anos, prestou juramento no Estádio Kasarani, em Nairobi, comprometendo-se a "defender e proteger" a Lei Fundamental do país, pelo que foi saudado por cerca de 60.000 pessoas reunidas no maior estádio da capital queniana.
"Este momento é um momento como nenhum outro", disse o Presidente eleito do Quénia no seu discurso de tomada de posse, aos aplausos dos espetadores no estádio.
"Hoje, quero agradecer a Deus, porque um rapaz da aldeia se tornou Presidente do Quénia".
O compromisso assumido pelo novo Presidente queniano foi testemunhado pelos chefes de Estado e de Governo de muitos vizinhos, nomeadamente da Etiópia, Uganda, Somália, Tanzânia, entre outros, assim como de vários países do continente africano, como da República Democrática do Congo, Chade ou Zimbabué, além de Moçambique e Guiné-Bissau.
Tumulto provoca dezenas de feridos
Pelo menos 60 pessoas ficaram hoje feridas quando uma multidão tentava entrar num estádio sobrelotado em Nairobi para assistir à posse do novo Presidente do país, William Ruto, disse fonte médica.
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"Tivemos de tratar alguns com ferimentos ligeiros. A maioria foi levada para o hospital principal em Nairobi", disse Peter Muiruri, dos serviços de socorros, citado pela agência de notícias Associated Press (AP), admitindo que o número de feridos possa subir.
Segundo explicou a mesma fonte, os ferimentos aconteceram quando uma cerca caiu, após ser empurrada pela multidão.
Alguns populares queixaram-se de violência policial: "A polícia bateu-me quando tentava entrar", disse uma testemunha, Benson Kimutai, citada pela AP.
A polícia queniana reforçou o contingente junto ao estádio, onde cada vez mais gente tentava entrar, apesar de o espaço já estar cheio, disse o porta-voz da polícia, Bruno Shioso, citado pela agência EFE, antes do início da cerimónia de posse.
"Para evitar desafios logísticos, pede-se ao público que procure formas alternativas de ver os procedimentos, especialmente desde a comodidade das suas casas", informou a polícia no Twitter.
As autoridades instalaram ecrãs no exterior do estádio, o Moi International Sports Center-Kasarani, para transmitir a cerimónia.
Artigo atualizado às 14h25 de 13.09.22 (Horário da Alemanha)
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.