AFP | Reuters | AP | Lusa | Jane Ayeko-Kümmeth | tm
26 de outubro de 2017
As urnas já abriram no Quénia, mas opositores tentaram impedir o escrutínio em várias assembleias de voto. Presidente Uhuru Kenyatta destacou forças de segurança para garantir a ordem.
Publicidade
De manhã cedo, houve confrontos entre a polícia e apoiantes do líder da oposição, Raila Odinga, que apelou ao boicote destas eleições presidenciais por não serem "credíveis". Manifestantes tentaram impedir a votação em várias cidades, montaram barricadas nas ruas e atiraram pedras à polícia, que lançou gás lacrimogéneo para dispersar os protestos.
O Supremo Tribunal anulou a 8 de agosto as últimas eleições presidenciais, que davam a vitória ao Presidente cessante Uhuru Kenyatta, devido a irregularidades. O líder da oposição pediu reformas na Comissão Eleitoral, mas isso não aconteceu. Por isso, retirou-se das novas eleições.
Num comício em Nairobi, na véspera das eleições, o líder da oposição Raila Odinga prometeu um novo escrutínio nos próximos 90 dias, além de "desobediência civil" e resistência.
"A resistência torna-se um dever. Se não houver justiça para as pessoas, não haverá paz para o Governo. A partir de hoje vamos transformar a Super Aliança Nacional [a coligação da oposição] num movimento de resistência", afirmou.
Solução para impasse político
Entretanto, cresce a tensão política e o receio de que se repitam os atos de violência pós-eleitoral de 2007-2008, em que morreram mais de mil pessoas.
Quénia vai a votos ao som de protestos
"Os líderes da oposição jamais aceitarão Kenyatta como líder eleito", diz Pat Thaker, especialista do instituto de pesquisa económica britânico Economist Intelligence Unit. "Eu acredito que a melhor solução agora seria adiar as eleições para o próximo ano. Assim o Supremo Tribunal e a Comissão Eleitoral poderão organizar e criar um ambiente mais transparente para as eleições."
Esta quarta-feira (25.10), o Supremo Tribunal foi incapaz, por falta de quórum dos magistrados, de alterar a data das presidenciais.
Outra possível saída para o impasse político, segundo a analista Pat Thaker, seria uma "intervenção" direta da comunidade internacional.
Mais de 20 milhões de quenianos estão inscritos para a votação desta quinta-feira. O Presidente cessante Uhuru Kenyatta disse que destacaria forças de segurança para garantir a ordem nas eleições presidenciais.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.