As mesas de voto já abriram. Quase 20 milhões de quenianos escolhem hoje o novo Presidente, que governará durante os próximos cinco anos, numa votação marcada pelo medo que se repita a violência pós-eleitoral de 2007.
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Os quenianos são chamados às urnas esta terça-feira (08.08) para as eleições presidenciais e para escolherem também os novos membros da Assembleia Nacional e do Senado.
O resultado das presidenciais é imprevisível, com os dois principais candidatos, o Presidente cessante, Uhuru Kenyatta, e o rival de longa data, Raila Odinga, a reeditarem um duelo disputado em 2013.
Os principais candidatos na corrida presidencial passaram as últimas horas antes do sufrágio ao lado da família. Numa igreja de Nairobi, Uhuru Kenyatta pediu mesmo intervenção divina para "umas eleições em paz".
Já o líder da oposição Raila Odinga passou as últimas horas antes da eleição ao lado da família e rodeado de netos. "Foi uma boa campanha. Senti que rejuvenesci e regressei à minha juventude", declarou.
Desemprego e pobreza
No Quénia, o desemprego cresce de forma galopante, principalmente entre os jovens, e os preços não param de aumentar. O Produto Interno Bruto (PIB) continua a crescer a um ritmo de 6 a 7%, mas mais de 40% da população ainda vive abaixo da linha da pobreza.
Kenyatta e Odinga: Rivais de longa data disputam presidência
Durante a campanha, os líderes desfizeram-se em promessas, num país em que as eleições são tradicionalmente decididas por sentimentos de pertença étnica.
Tanto Uhuro Kenyatta (kikuyu) como Raila Odinga (luo) construíram duas alianças eleitorais para disputar os votos das cinco principais etnias do país.
Tensão e ansiedade
Nas ruas de Nairobi, a capital, o clima é de tensão e ansiedade, com os cidadãos curiosos para saber quem ficará à frente dos destinos do país.
Nos últimos dias, muitos decidiram verificar nas estações de voto se estão corretamente inscritos e onde têm de votar. Dennis Onyango, um cidadão local, prometeu acordar cedo para ir votar "e andar pelas ruas com um apito para acordar e mobilizar para a votação as pessoas que ainda estiverem a dormir".
Outro cidadão diz que vai acompanhar de perto o processo eleitoral e "até ao último minuto", para garantir que os votos são contados. Um outro habitante ouvido pela DW África mostra-se mais otimista: "As eleições vão correr bem, não haverá violência".
Nos últimos dias, o Governo destacou mais 180 mil efetivos das forças de segurança para evitar a repetição do cenário pós-eleitoral de 2007: o país mergulhou em dois meses de violência que fez mais de 1.100 mortos e 600 mil deslocados, depois da oposição, liderada por Raila Odinga, ter reclamado fraude eleitoral.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.