O poder de Isabel dos Santos em Angola deveu-se principalmente ao fato de ser filha do ex-Presidente do país, José Eduardo dos Santos, mas a sua veia russa fez a diferença na esfera dos negócios.
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É sabido que o poder de Isabel dos Santos em Angola deveu-se principalmente ao facto de ser filha do ex-Presidente do país, José Eduardo dos Santos. Mas a sua poderosa veia russa foi um extra que fez a diferença no seu poder de influência que não se ficou pela esfera dos negócios.
Há anos que determinados setores entendem que o casamento do ex-Presidente José Eduardo dos Santos com a cidadã russa Tatiana Kukanova, mãe de Isabel dos Santos, foi uma caminho facilitado para a influência russa em Angola. É um exagero afirmar isso?
Nova era das relações Angola - Rússia: A influência de Isabel dos Santos perde espaço?
Conversamos com José Milhazes sobre o assunto e o historiador, especialista nas relações entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e a ex-União Soviética, começou por responder a essa pergunta: "Não, não é porque no caso da dívida angolana à União Soviética a família do ex-Presidente angolano teve um papel muito importante, nomeadamente na forma como foi tratada e na forma como naquela altura desapareceu muito do dinheiro, que fazia parte dessa dívida. Além disso penso que as relações nessa altura não eram de todo transparentes. E neste momento poderá haver possibilidade das relações entre Angola e a Rússia se tornarem mais transparentes, se o Presidente angolano avançar com a sua política de abertura como ele vem tentando demonstrar nos últimos tempos."
Ligações à Rússia
À medida que Isabel dos Santos foi aumentando a sua esfera de influência a relação com a Rússia passou a ser cada vez mais importante. Milhazes considera que Isabel era uma representante dos interesses russos em Angola, além disso manteve sempre bom relacionamento com os mais poderosos: "Ela tinha e tem fortes ligações a alguns círculos, digamos, oligárquicos russos. Ela tinha negócios com eles e claro que tinha uma forte influência no campo das relações económicas e não só, entre Luanda e Moscovo."
O atual Presidente angolano, João Lourenço, quer minimizar o grau de influência da família de José Eduardo dos Santos na sua actual governação. Apesar disso o especialista considera que isso não vai impedir que os negócios de Isabel dos Santos continuem a crescer nem que seja em territórios como a Rússia. "Eu penso que a pouco e pouco o Presidente angolano se vai distanciar da família de José Eduardo dos Santos e também vai tentar com que essa família não influencie na sua política externa nomeadamente com a Rússia. Agora isso não significa, que a senhora Isabel dos Santos não vá continuar a ter negócios com empresários russos ou com a Rússia. Pode até aumentar, porque ela começando a ter dificuldades em Angola, poderá eventualmente tentar ir para mercados que ela considera mais seguros para os seus negócios."
Perda de influência
Isabel dos Santos tem vindo a perder a sua influência em várias áreas.Primeiro no setor empresarial a sua posição em grandes empresas como a Unitel ou a Sonangol começa a perder força. Mas também nível politico João Lourenço retirou a tutela da coordenação do Plano Diretor Geral Metropolitano de Luanda e da construção da barragem Caculo Cabaça à filha do ex-Presidente de Angola.
Assim sendo José Milhazes considera que a Rússia não vai tentar exercer a sua influência através da sua amiga Isabel do Santos. "Eu acredito que neste momento não será essa a intenção da Rússia, porque seria um pouco navegar contra o vento".
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.