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Qual o papel do Batalhão Azov na guerra da Ucrânia?

Roman Goncharenko
21 de março de 2022

A cidade ucraniana de Mariupol está a ser defendida por um regimento da Guarda Nacional composto por nacionalistas e extremistas de direita. É até citado por Vladimir Putin como um dos motivos da guerra.

Foto: Andrea Carrubba/AA/picture alliance

Um vídeo curto mostra um monitor dentro de um veículo militar supostamente ucraniano, a rondar uma área que parece um lugar próximo de Mariupol. Numa ruela estão tanques blindados, marcados com a letra "Z", que designa as tropas russas na Ucrânia. Escutam-se tiros e o veículo supostamente russo pega fogo.

No início da segunda semana de março, o "Batalhão Azov" ucraniano divulgou essas imagens no seu canal do Telegram, uma aplicação de mensagens instantâneas. Em comunicado, afirmaram ter "aniquilado" três veículos militares e quatro tanques, além de "muita infantaria".

Pouco mais tarde, os combatentes publicaram a foto de um homem de uniforme morto, alegando tratar-se de um general russo abatido pelo batalhão. É bastante difícil verificar essas afirmações.

Mariupol está sobretudo a ser defendida pelo polémico "Batalhão Azov". Além da capital, Kiev, e da segunda maior cidade, Kharkiv, a cidade portuária é um dos locais da Ucrânia em que a Rússia trava uma guerra especialmente brutal.

Com os seus 500 mil habitantes, Mariupol está a cercada pelas tropas russas desde o início de março e foi submetida a bombardeamentos intensos. Não há energia nem água suficiente e as reservas de alimentos estão no limite.

Conexões com a extrema-direita

É em Mariupol que o "Batalhão Azov" mantém o seu quartel-general. O regimento faz parte da Guarda Nacional, estando, portanto, subordinado ao Ministério do Interior. Consta que os seus combatentes são bem treinados, porém a unidade é controversa, por ser composta por nacionalistas e extremistas de direita. A sua própria existência é um dos pretextos usados pela Rússia para a guerra na Ucrânia.

O batalhão Azov treina recrutas desde muito jovens, por exemplo, em campos de verãoFoto: Vadim Ghirda/AP Photo/picture alliance

O batalhão foi criado em maio de 2014, na cidade de Berdyansk, para apoiar o Exército ucraniano na luta contra os separatistas pró-russos no leste do país. Alguns dos seus membros integravam antes o "Setor de Direita", um pequeno mas ativo grupo de extremistas de direita.

O núcleo desse grupo provinha da própria região leste, falava russo e originalmente defendia a unidade dos povos eslavos orientais - russos, bielorussos e ucranianos. Parte dos seus membros vinha dos meios dos ultras do futebol, outros atuavam em círculos nacionalistas.

Contudo, desde o início que o Azov é polémico, por causa do seu brasão, o "Anjo-Lobo".

"O Anjo-Lobo tem uma conotação radical de direita, é um símbolo pagão, também usado pelas SS (organização paramilitar da Alemanha nazi)", explica o especialista Andreas Umland, do Centro de Estudos sobre o Leste Europeu de Estocolmo.

"Ainda assim, na Ucrânia, não é considerado um símbolo fascista". O regimento Azov pretende que a imagem seja interpretada como um "N" e "I" estilizados, designando "ideia nacional".

O fundador e primeiro comandante do batalhão foi Andriy Biletsky, de 42 anos, formado em história pela Universidade Nacional de Kharkiv e há vários anos ativo na cena da extrema-direita. Em meados de 2014, com forças modestas, o Azov participou na reconquista de Mariupol das mãos dos separatistas pró-russos.

Desde então, age como regimento. Segundo dados da imprensa, antes da guerra iniciada pela Rússia, o batalhão contava com cerca de mil combatentes e dispunha de artilharia e tanques de combate próprios. Em 2014, o Governo ucraniano decidiu integrar os ultranacionalistas às estruturas estatais.

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Mito alimentado pela propaganda russa

Em 2015 e 2016 nasceu um movimento - uma espécie de braço político do Azov. Biletsky renunciou ao comando e fundou, juntamente com outros antigos combatentes, o partido "A Corporação Nacional", que não teve êxito nas urnas. Biletsky entrou para o Parlamento por mandato direto, mas está fora desde as eleições de 2019. Segundo as suas próprias alegações, luta na frente de Kiev desde a invasão pelas tropas do Presidente russo, Vladimir Putin.

Em 2019, houve no Congresso dos Estados Unidos uma iniciativa para classificar o regimento como "organização terrorista", sem sucesso. A verdade é que o Azov mantém há anos contactos com membros da extrema-direita no estrangeiro, também na Alemanha, segundo uma resposta do Governo alemão a uma consulta da bancada parlamentar do partido "A Esquerda".

O mito em torno no "Batalhão Azov" também se deve à propaganda russa, afirma o especialista Andreas Umland. Nos conflitos armados de 2014, houve numerosas acusações de pilhagem e má conduta contra grupos de combatentes voluntários, entre os quais também o Azov.

"Normalmente, consideramos o extremismo de direita como algo perigoso, que pode levar à guerra", admite Umland. Na Ucrânia, foi ao contrário, a guerra proporcionou a ascensão e a transformação de grupos marginais num movimento político.

Contudo, a sua influência sobre a sociedade é sobrestimada - para a maioria dos ucranianos, eles são combatentes que defendem o seu país contra um agressor mais forte.

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