Qualidade de ensino preocupante em muitos países africanos
Martina Schwikowski | tm
23 de maio de 2018
Em países como a Zâmbia, a Nigéria e a África do Sul, aumentam as queixas contra os sistemas de ensino. Falta de infraestruturas é frequente. Na Nigéria, professores não passaram em testes para alunos de nível básico.
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Na escola rural da aldeia de Kawaya, noroeste da Zâmbia, as crianças costumam ter aulas à sombra de uma árvore. Ao professor, falta o quadro negro para escrever. Aos alunos, faltam os cadernos. Essa é a realidade de estudantes e docentes em muitas comunidades rurais desse país, onde a frequência escolar dos alunos também não ajuda.
Em muitos casos, os professores não têm qualificação adequada. O escândalo no sistema de ensino zambiano veio à tona em abril, quando autoridades tornaram o problema público. 263 professores foram demitidos.
"O aparecimento do setor privado aumentou a concorrência entre os docentes. Para encontrarmos professores competentes, temos de os submeter a testes.Tivemos queixas de que a formação de professores no setor privado não é suficiente", explica Segundo Stanley Mhango, diretor da Comissão de Serviço de Ensino da Zâmbia. "Antes, contratávamos profissionais apenas pelas suas boas referências, mas hoje, isso não é possível", diz à DW África.
Como identificar professores pouco qualificados?
Na Nigéria, por exemplo, até já existem exames para identificar os professores pouco qualificados. E os resultados preocupam: em Kaduna, o maior estado do país, no noroeste, cerca de dois terços dos profissionais de ensino básico foram dispensados porque não passaram nos exames destinados aos alunos de seis anos de idade.
Por sua vez, o Sindicato dos Professores de Kaduna parece apoiar apenas parcialmente os esforços do Governo para melhorar a qualificação dos docentes. O sindicato critica o aumento da pontuação, de 60% a 75%, em testes que avaliam esses profissionais.
"Infelizmente, sindicatos impedem melhorias no sistema educacional quando protegem interesses dos seus membros. A má educação deve ser combatida com profissionalismo, formação e controlo da qualidade. É justamente nesses pontos que os sindicatos costumam impedir ações", explica Jane Hofmeyr, especialista em educação.
Professores nas áreas rurais
A Nigéria não é exceção. Na África do Sul, a falta de profissionais em áreas rurais faz com que até pessoas sem qualificação sejam com frequência escolhidas para lecionar, explica a especialista Hofmeyr. "O problema é que não se chega facilmente a muitas partes de África e da África do Sul em particular", diz.
Segundo a especialista, essas longas distâncias não atraem os professores mais jovens e bem qualificados. "Muitas vezes, eles não têm bons lugares para morar", explica. "Não deveria ser assim, mas é o que acontece todos os anos, por exemplo, na província de KwaZulu-Natal, na África do Sul, segundo mostram estudos".
Noutros países africanos, como Uganda e a Tanzânia, mesmo que sejam feitos esforços para melhorar a qualidade da educação, em muitos casos, nem os próprios professores têm formação profissional. "Os professores ensinam o que leem nos livros. Raramente entendem o que estão a ensinar. Eles são um produto de um sistema educacional pobre", concluiu Hofmeyr.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.