Quatro mortos em protestos pós-eleitorais no Quénia
nn | AFP | AP | Lusa | EFE
10 de agosto de 2017
O Quénia continua a contar os votos das eleições gerais de terça-feira, aguardando-se que os líderes se pronunciem sobre a fraude denunciada pela oposição e que provocou distúrbios. Há pelo menos quatro vítimas mortais.
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A tensão política e social no Quénia voltou a escalar com a divulgação dos primeiros resultados das eleições de terça-feira (08.09), que atribuem a vitória ao partido do Presidente em exercício, Uhuro Kenyatta.
Os quenianos continuam a aguardar a recontagem dos votos, depois de Raila Odinga, do partido da oposição, Super Aliança Nacional, ter dito que a base de dados eleitoral foi alvo de um "ato de pirataria" para manipular os resultados.
"Algumas pessoas executaram um esquema organizado durante um período de tempo alargado para negar aos quenianos o seu direito democrático de eleger um líder", acusou o líder da oposição.
As garantias da Comissão Eleitoral
A Comissão Eleitoral garante que o sistema informático não sofreu qualquer interferência externa "antes, durante ou depois" do sufrágio. Ezra Chiloba, membro da Comissão, garante que os sistemas de transmissão de resultados e de contagem de votos são seguros. "Investimos na segurança e vigilância de toda a rede da comissão eleitoral e, apesar de várias tentativas, não há evidência de qualquer acesso ilegal ao nosso sistema", declarou.
Quatro mortos em protestos pós-eleitorais no Quénia
A Comissão Eleitoral divulgou quarta-feira (09.08) os resultados transmitidos eletronicamente por mais de 96% das assembleias de voto, que atribuem ao Presidente cessante, Uhuru Kenyatta, 54,3% dos votos, contra 44,8% de Raila Odinga.
Falta agora à Comissão concluir a validação destes resultados provisórios, confrontando-os com as atas das assembleias de voto.
Raila Odinga já disse que não vai aceitar os resultados finais e responsabiliza a Comissão Eleitoral pela alegada manipulação. "Os resultados das eleições são uma completa farsa. A fraude eleitoral e a manipulação dos resultados foi de tal forma maciça que atinge todos os 47 municípios", acusou.
Confrontos e violência
O número de confrontos não pára de aumentar nas ruas do Quénia. Um dia após o escrutínio, a polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo sobre centenas de manifestantes concentrados em bastiões da oposição.
Segundo as agências de notícias internacionais, a polícia disparou balas reais, matando duas pessoas no bairro de lata de Mathare, em Nairobi. No condado de Tana River, no sudeste, homens armados com facas atacaram uma assembleia de voto onde a contagem estava ainda em curso. Dois deles foram mortos pela polícia.
A Amnistia Internacional instou as autoridades quenianas a não usarem força desnecessária na resposta aos protestos. Por questões de segurança, algumas ligações ferroviárias foram suspensas, como a linha entre Mombasa e Nairobi inaugurada recentemente.
O ex-secretário de Estado norte-americano John Kerry, que é observador internacional nestas eleições, pediu aos líderes quenianos para darem "um passo em frente" e transmitirem aos cidadãos confiança na integridade do processo eleitoral.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.