Na cidade de Maxixe, em Inhambane, quatro agentes, incluindo um comandante, foram presos na segunda-feira, acusados da morte de quatro pessoas em 2017. Procuradoria e PRM confirmam detenções, mas sem avançar detalhes.
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A ordem de captura de Joaquim Nascimento, comandante distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Maxixe, do chefe de operações Julião Muguambe e outros dois agentes, cujas identificações não foi possível apurar, foi emitida pela Procuradoria Provincial de Inhambane.
Os quatro homens são acusados de homicídio qualificado de quatro pessoas no ano passado, no distrito de Funhalouro, que fica a menos de 200 quilómetros de Maxixe, disse esta terça-feira (16.01), em conferência de imprensa, o porta-voz da Procuradoria de Inhambane, José Manuel Ernesto.
Na altura, muitas pessoas acreditavam que os corpos encontrados seriam de supostos membros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição. As vítimas seriam quatro funcionários que trabalhavam numa empresa de construção civil com sede em Maputo, segundo fontes ligadas à Procuradoria Provincial.
Polícias detidos em Moçambique por alegados assassinatos
José Manuel Ernesto confirmou as detenções, mas negou comentar o assunto alegando que o processo ainda está em segredo de justiça. "Neste momento não temos outras questões a acrescentar porque o processo está numa fase inicial e está em instrução, com réus detidos. Não podemos entrar em mais detalhes", disse.
Também o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Inácio Dina, confirmou as quatro detenções e repudiou o comportamento dos agentes que "juraram bandeira para proteger os cidadãos e os seus bens, as instituições e garantir a ordem e segurança e tranquilidade públicas."
Críticas da Liga dos Direitos Humanos
Um membro da Liga dos Direitos Humanos em Inhambane, que pediu anonimato, disse à DW África que a situação é lamentável e alertou para as execuções sumárias que continuam a acontecer no país. "Estamos perante uma situação de execução sumária, em que o cidadão é preso de forma arbitrária, num sítio qualquer, disparam tiros e matam-no", afirma.
"A polícia naquele momento atuou como agente do Estado, de forma autoritária. O papel da polícia é garantir a segurança pública", lembra o ativista. Os agentes "têm de ser punidos individualmente e responsabilizados individualmente", sublinha.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.