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Que conexões têm supostos golpistas da RDC com Moçambique?

21 de maio de 2024

Alegados golpistas da República Democrática do Congo evidenciam ser bem "apadrinhados" nos negócios em Moçambique, onde só atuam porque a ausência de Estado facilita o lucro fácil e rápido, diz académico.

As forças de segurança congolesas protegem as ruas de Kinshasa, na RDC, no domingo (19.05), depois de o Exército ter impedido um golpe
Foto: Samy Ntumba Shambuyi/AP Photo/picture alliance

Três indivíduos envolvidos no suposto golpe de Estado falhado na República Democrática do Congo (RDC) têm interesses empresariais em Moçambique. São eles o congolês Christian Malanga e os norte-americanos Benjamim Zalman-Polun e Cole Ducey.

Registaram no país três empresas no setor da mineração, a Global Solutions Moçambique, a Bantu Mining Company e a CCB Mining Solutions. Esta ligação dos "soldados da fortuna" com Moçambique é vista pelo académico Fernando Cardoso como o aproveitamento de um contexto de fragilidade para obter lucros fáceis, sem controlo.

Para Cardoso, "tudo se resume a interesses de negócios", pois, "como sabemos, não só ele [Malanga], mas os seus sócios, alguns deles moçambicanos, estavam interessados em beneficiar da falta de controlo que existe nas províncias no norte de Moçambique, concretamente em Cabo Delgado, e exportar produtos fora do circuito legal".

No entanto, mesmo que Christian Malanga tenha "sido morto e implicado na tentativa de golpe de Estado ou de assassinato do Presidente do Congo, não penso que possa haver uma correlação direta com Moçambique", salienta o académico.

Homens vestidos com uniformes militares durante a suposta tentativa de golpe em KinshasaFoto: Christian Malanga/Handout/REUTERS

Cardoso duvida que Malanga, que exibia os seus exercícios militares nas redes sociais, tenha orquestrado um golpe de Estado. Para ele, tratou-se mais de uma alegada tentativa de assassinato as lideranças congolesas para proteger os seus interesses na RDC.

Suspeitas sobre apoio

Nas redes sociais, o cidadão congolês, que também dizia ter residência em Moçambique, partilhou imagens suas com "o primeiro tiro", como é conhecido o general Alberto Chipande, destacado membro da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido que governa Moçambique. O contacto levanta suspeitas sobre um possível "apadrinhamento" da "nomenklatura" local.

Para Borges Nhamire, investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), "as relações desses indivíduos com Pessoas Politicamente Expostas (PPE), com capacidade de influenciar decisões do Estado, são preocupantes".

Borges Nhamire, investigador do Centro de Integridade Pública (CIP)Foto: DW/S. Lutxeque

O académico Fernando Cardoso entende que investidores de alto risco, como os supostos criminosos, aproveitam-se da fraqueza do Estado moçambicano e de alguns indivíduos influentes para obter vantagens. Nesse sentido, desvaloriza a ideia de um maior rigor nas parcerias comerciais e culpa as ambições desmedidas das elites políticas.

Segundo ele, "não é Moçambique, são pessoas no país que tiveram posições importantes durante o Governo da FRELIMO de Samora Machel que se esqueceram completamente das razões pelas quais lutaram pela independência". Nomeadamente, "Chipande e Pachinuapa que, saindo da esfera da construção de um Estado de Direito, começaram a tomar conta dos seus negócios privados."

"Muitas pessoas que se colam a eles aproveitam o seu prestígio para fazer este tipo de operações com ligações com as máfias", acrescenta.

Maior controlo

Porém, as conexões dos supostos criminosos com Moçambique vêm pôr a descoberto fragilidades no sistema legal moçambicano. E Nhamire está certo de que as leis podem não estar a ser eficazes.

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"No âmbito das leis da prevenção ao financiamento do terrorismo, de combate ao branqueamento de capitais, prevenção de proliferação de armas, até que ponto é eficaz a implementação dessas leis?", questiona. 

"Pelas fontes abertas, estes são cidadãos de alto risco, aparecem expostos com armas e a exibir dinheiro. Até que ponto essas leis são efetivas? Moçambique deveria ter capacidade de fazer due diligence das pessoas que entram no país para fazer negócios". 

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