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Que consequências terá Angola com aproximação ao AFRICOM?

Nádia Issufo25 de setembro de 2014

O AFRICOM aproxima-se de Angola para estreitar laços em matéria de segurança. Embora a iniciativa seja considerada positiva, receia-se que o país possa sofrer retaliações dos inimigos dos EUA com esta aproximação.

AFRICOM
Encontro do AFRICOM em Estugarda, AlemanhaFoto: AP

E para materializar esse interesse está desde esta quarta-feira em Luanda o responsável do Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM). David Rodriguez deve ficar no país por dois dias e o reforço da cooperação na áera de segurança regional e marítima é o que o leva a Angola.

De lembrar que sob o ponto de vista das relações externas, principalmente em África, Angola tem estado a sobressair-se. Haverá alguma relação entre o interesse norte-americano e o papel de Angola na região dos Grandes Lagos e no Golfo da Guiné?

"O papel que Angola está a desempenhar nos Grandes Lagos tem, de facto, merecido o aplauso regional e internacional, quase diria consensual e indiscutível", explica Paulo Gorjão. O analista político do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS) destaca ainda "a própria relevância de Angola no Golfo da Guiné, que é uma região crucial e que tem tido crescente relevância para os Estados Unidos da América (EUA)".

Por isso, para o investigador, "é também uma razão que explica o interesse dos EUA e em particular do AFRICOM em Angola, como noutras alturas também já em São Tomé e Príncipe e, naturalmente, teria de ser mais em Angola do que em São Tomé e Príncipe, como é óbvio."

O AFRICOM está atualmente sedeado em Estugarda, AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

AFRICOM encaixa-se nos planos de Angola na ONU

A projeção de Angola a nível externo não pára. O país deve ser confirmado como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2015/2016.

A contar com isso, Angola traçou já os três pilares da ação própria para este mandato, que passam pela defesa da paz e segurança, pela prevenção e resolução de conflitos e pela realização de missões de manutenção e de consolidação de paz e missões humanitárias.

Segundo Paulo Gorjão, a aproximação do AFRICOM a Angola só vai de encontro às metas de Luanda, "ainda por cima agora que se avizinha a votação, que provavelmente confirmará a presença de Angola no Conselho de Segurança no próximo biénio."

O analista não tem dúvidas de que "são razões adicionais para se prestar atenção a Angola", que é "obviamente um dos Estados africanos com uma projeção de poder e força inequívoca na sua região, mas também em todo o continente africano."

Paulo Gorjão recorda ainda que Angola "tem uma posição de proximidade com o Golfo da Guiné com problemas de pirataria."

A influência que Angola exerce sobre São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau também é um ponto a ser tomado em conta quando se fala na segurança do Golfo da Guiné. O facto só fortalece mais a posição de angola como parceiro do AFRICOM, reconhece o especialista.

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Angola suplantará a Nigéria?

Por outro lado, existem as ações dos grupos radicais armados na África Ocidental, como o Boko Haram, por exemplo. O cientista político reconhece que isso pode ter contribuído para a aproximação, mas destaca um ponto que, mais uma vez mais, favorece Angola: "sobretudo os problemas como o Boko Haram, e não só, de algum modo fragilizam a posição da Nigéria."

No entender de Paulo Gorjão, "há incapacidade da Nigéria em se concentrar em questões de política internacional, dar uma resposta a desafios de segurança no continente africano." Portanto, acrescenta, "Angola beneficia com esta situação, quando o AFRICOM olha e pensa em Angola não será essa a primeira prioridade, mas a instabilidade que se vive em parte da Nigéria contribui para que o AFRICOM procure reforçar parceria adicionais, alternativas."

O analista considera necessária esta parceria devido à sua posição geográfica estratégica e, por isso, considera que Angola tem de assumir as suas responsabilidades no combate à pirataria e ao tráfico no Golfo da Guiné.

O general da AFRICOM, David Rodriguez, está em Luanda para reforçar a parceria com o GovernoFoto: Gianluigi Guercia/AFPGetty Images

Que consequências para Angola?

Mas existe também o outro lado moeda. "Inevitavelmente que uma posição de primeira linha associada aos EUA no combate a formas diversas de instabilidade dará uma acrescida visibilidade a quem assumir esse papel. E no caso de Angola pode ter consequências, retaliações, atentados. Evidentemente nem sempre um alinhamento com os EUA é uma posição bem vista no continente africano", observa Paulo Gorjão.

O cientista político considera que esta é uma situação da qual o país não pode fugir. "São as dores de crescimento, que expõem Angola aos inimigos dos EUA."

Acontece esta sexta-feira (26.09), em Lisboa, a capital portuguesa, uma conferência internacional denominada "Segurança do Golfo da Guiné". O objetivo é promover a prevenção e combate a pirataria e o tráfico de drogas e seres humanos na região.

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