1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Que futuro para o Sudão?

7 de fevereiro de 2011

98,83% dos sudaneses votaram a favor da independência do sul do Sudão em janeiro último, segundo dados oficiais hoje divulgados. Uma realidade que estava longe de ser previsível há uns anos atrás.

Depois dos resultados do referendo esperam-se mudanças para o Norte e o Sul do Sudão que devem, entretanto, demorar a chegar
Depois dos resultados do referendo esperam-se mudanças para o Norte e o Sul do Sudão que devem, entretanto, demorar a chegarFoto: picture alliance/dpa

Foi um referendo que recebeu o apoio da comunidade internacional e do Sudão: a norte e a sul. O balanço é positivo: trata-se do primeiro grande fruto das negociações do Amplo Acordo de Paz do país, de 2005, que pôs fim a 21 anos de guerra. O escrutínio teve o apoio do presidente sudanês; recorde-se que Omar al-Bashir recebeu um mandado de captura do tribunal penal internacional, indiciado de crimes de guerra e contra a humanidade no Darfur.

Aly Verjee, conselheiro político do comité de observadores eleitorais da União Europeia, vê no apoio de al-Bashir uma expressão de boas-vindas inevitável à independência do sul do Sudão. Mas destaca: “Para 99% das pessoas, o referendo foi a expressão livre do que realmente queriam. Mas o SPLM, o partido do sul do Sudão, decidiu que 100% dos eleitores deviam participar, o que levou as autoridades a obrigar as pessoas a votar. Isso não muda o resultado, mas forçar o voto é um sinal negativo. É uma pena.”

Verjee falou ainda das semelhanças entre o referendo sudanês e o de Timor Leste, em 1999. Ambos determinaram se o povo queria fazer parte de um país maior. O conselheiro político diz que nos dois casos ambas as eleições foram um sucesso, com apoio internacional, e o voto não pôs fim ao processo. Para Verjee, os resultados foram muito significativos, mas 10 anos depois ainda há muitos desafios para os timorenses e acredita ainda que no Sul do Sudão a situação vai ser semelhante.

Anúncio de bom tempo, mas o sol não brilha logo

Apesar da população ter expetativas muito altas, é preciso tempo para resolver vários problemas, como a delineação de fronteiras, a partilha de água e petróleo, o regresso de refugiados, a corrupção, a moeda, os conflitos tribais e, naturalmente, o Darfur – onde cerca de metade do território é inacessível à ONU.

Polícias sudaneses reprimindo uma manifestação a favor da auto-determinação do SudãoFoto: picture alliance / dpa

Douglas Johnson trabalhou para o governo sudanês como investigador ao abrigo do Acordo de Paz do Sudão. Para ele tornou-se evidente que o partido no poder NCP e o SPLM têm visões diferentes sobre o país – nunca chegaram a acordo sobre um Sudão unido. Johnson diz que "Os problemas gerados pela fronteira, pelo petróleo e especialmente por Abyei fizeram o SPLM perceber que era melhor apoiar a independência do sul do que trabalhar com o NCP.”

Douglas Johnson lembra que a crise no vizinho Egito é diferente da Sudanesa: “Os egípcios sentiram que já não tinham nada a perder, por isso saíram à rua. Além disso, a lealdade dos serviços de segurança foi quebrada na Tunísia e no Egito." Para o investigador ainda não se viu em Cartum uma população que sinta que não tem nada a perder nem sabe qual é o estado dos órgãos de segurança sudaneses.”

O Sudão enfrenta uma década difícil, mas se não houver regresso à guerra, a população pode viver melhor. De acordo com os especialistas, apesar de o norte do Sudão ser para sempre o seu vizinho mais importante, o sul deve aproveitar o que tem de bom: a língua árabe, a agricultura e, principalmente, a esperança.

Autor: Débora Miranda
Revisão: Nádia Issufo/Marta Barroso

Saltar a secção Mais sobre este tema