Clientes angolanos continuam a comprar casas em Portugal, mas em menor percentagem do que no período do boom petrolífero. Dificuldades de transferência de capital entre Luanda e Lisboa explicam investimento menor.
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Atualmente, não fazem tanto parte da carteira de clientes as figuras da elite angolana que antes viajavam para Portugal para comprar apartamentos de luxo com dinheiro alegadamente de origem duvidosa.
O angolano Emir Sabalo vive há cerca de quatro anos em Portugal. Foi aqui que começou a trabalhar como consultor imobiliário, acabando por abrir uma agência em Lisboa, no ano passado, com a ajuda de um sócio. Antes dos projetos que quer implementar em Angola nesta área, faz parte dos seus planos comprar uma habitação na capital portuguesa.
"Estou a tratar disso. Por enquanto só vendo [casas]. É mais barato comprar uma casa no centro de Lisboa do que no centro de Madrid ou Londres, por exemplo. Mas dá sempre para se conseguir efetuar uma boa compra", disse.
Que interesse tem Angola no mercado imobiliário português?
Em 2016, Angola liderava a lista de compras em Portugal, incluindo imovéis e a gama de apartamentos de luxo em zonas como Estoril, em Cascais. De acordo com as estatísticas oficiais, só entre janeiro e julho daquele ano, o número de compras feitas por cidadãos angolanos representou 37% do universo total de compras feitas por turistas em Lisboa.
Investimentos
Algumas das aquisições foram feitas ao abrigo dos vistos Gold, um pacote de incentivos criado pelo Estado português para atrair investidores estrangeiros. Ricardo Amantes, diretor do Departamento de Vendas e de Investimentos da Coporgest, uma empresa a operar no mercado há 14 anos, confirma que naquele período de boom económico em Angola, o mercado imobiliário se beneficiou bastante com as aquisições feitas por clientes angolanos de médio e alto rendimento.
"Exatamente. Nos anos de 2008, havia uma grande procura por parte de clientes angolanos que, entretanto, ao longo dos tempos tem vindo a diminuir. Hoje são bastante poucos, em grande medida, fruto das dificuldades de trazer dinheiro de Angola para Portugal. Existem regras muito apertadas e limitadas para a transferência de fundos e, como tal, isso limita a capacidade de investimento dos clientes angolanos", explica.
Em parte, isso afetou indiretamente os negócios da empresa, "porque os clientes angolanos eram uma fatia importante do mercado", diz. Apesar disso, Portugal continua a ter a preferência de clientes oriundos de Angola. "Sem dúvida. Existe uma grande proximidade cultural, na medida em que falamos a mesma língua e os clientes angolanos sempre olharam para Portugal como um mercado que lhes é querido", acrescentou Ricardo Amantes.
O angolano Emir Sabalo concorda. "O fluxo não é o mesmo – tão dinâmico como era antes – mas continua a haver muito negócio de clientes angolanos a adquirirem cá habitação própria", afirma.
Há quem tenha comprado mais de uma casa para reunir a família durante as férias ou por ter filhos a estudar em Portugal, tal dá conta o jovem angolano, que diz ser este um bom investimento. "Há sempre oportunidade de rentabilizar o negócio", garante o consultor que trabalha com clientes de vários países, entre os quais angolanos, alemães, brasileiros e moçambicanos.
Sandra Fragoso, gestora do Salão Imobiliário de Lisboa (SIL), confirma que Portugal continua a despertar muito interesse dos investidores estrangeiros. "Os países de língua oficial portuguesa tradicionalmente sempre investiram em Portugal. Isso, obviamente, irá sempre acontecer, com mais aceleração ou algum abrandamento", concluiu.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".