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Desporto

Primeiro ciclista guineense a transferir-se para a Europa

22 de outubro de 2018

O sonho tornou-se realidade para Quedutar Cul Ialá, hexacampeão guineense que se transferiu de Nhacra para a Corunha para competir no campeonato de ciclismo da sub-21. Guineenses sentem-se orgulhosos pelo feito inédito.

Guinea-Bissau Radsportler Quedutar Iala
Foto: DW/B. Darame

Chama-se Quedutar Cul Ialá. Nasceu na vila de Nhacra, a norte da Guiné-Bissau, onde muito cedo começou a pedalar pela vila para ajudar a sua pobre família que sobrevivia das atividades do campo. O jovem de apenas 21 anos de idade acaba de protagonizar a histórica transferência no ciclismo guineense, uma modalidade ainda em afirmação na Guiné-Bissau. Por 10.000 euros assinou o primeiro contrato profissional na Europa, em Espanha, anunciou a Federação guineense de Ciclismo.

Cul Ialá sempre soube o que realmente queria ser no futuro, mas devido às bases da sua origem familiar e inserção rural, trabalhou primeiro no campo da produção do cereal para a subsistência familiar, base da agricultura camponesa guinense. Mais tarde, aprendeu a cavar um poço artesiano, com qual, de forma ambulante, de tabanca em tabanca oferecia serviços comunitários para que os populares pudessem ter acesso à água para as suas necessidades diárias e para que ele também pudesse ganhar algum dinheiro e satisfazer as necessidades familiares - sempre com o "bichinho" de pedalar.

Nasceu para ser ciclista

Quedutar Ialá: "Quando pescava no rio, imaginavam-me numa pista internacional de ciclismo"Foto: DW/B. Darame

Em busca do seu maior sonho, ser ciclista campeão africano pela Guiné-Bissau, começou a pedalar em casa, em Nhacra, numa bicicleta enferrujada do pai pendurada na varanda, sem pneus nem correntes. O "ferro-velho" servia mesmo só para esticar os músculos e sentir a sensação de estar em alta competição.

"Quando pescava no rio, imaginavam-me numa pista internacional de ciclismo. Até que um dia decidi voltar a casa despendurar a bicicleta e obriguei o meu pai a montá-la peça por peça para participar num concurso nacional. Acabei por perder contra as pessoas que tinham mais experiências e bicicletas profissionais."recorda em entrevista à DW África.

Quando nasceram os dois filhos, o jovem promessa abandonou o liceu, no 9º ano da escolaridade, porque não tinha mais condições de prosseguir os estudos na capital Bissau, cidade em que nunca quis viver. Mas foi na capital que despontou a mostrar músculos na estrada, quando venceu a corrida do aeroporto ao centro da cidade com uma bike velha e amador, diante de uns concorrentes com bicicletas profissionais: “dizia-se em Bissau que Quedutar ganhou a corrida com uma lata-velha”, recorda a sorrir.

Hexacampeão aos 21 anos 

Quedutar fez da derrota o ponto de partida para se chegar ao pódio, quando dedicou a vida a pedalar nas estradas do interior da Guiné-Bissau. Nunca mais parou e foi seis vezes campeão nacional das corridas de bicicleta que se faz no país: de Farim, no norte, a capital Bissau (118 km), Mansôa, no norte, a Bissau (60 km), Bafatá-Gabú, no leste (50 km) entre outras.

"Na altura, muita das vezes quando saía dos treinos ou das competições chegava a casa e não tinha nada para comer. Dormia com fome e cansaço, mas nunca quis desistir da bicicleta, sempre sonhei que o dia melhor chegaria se lutasse mais."

Ciclista com dirigentes da Federação de Ciclismo (de esquerda para a direita):Henrique Salgueiro, Quedutar Cul Ialá, Sabino Nhasse e Bien João Emília EmbanaFoto: DW/B. Darame

Antes de assinar o contrato profissional na Europa, pela Guerciotti-Kiwi Atlântico, equipa espanhola de Corunha, Quedutar Cul Ialá ficou na décima quarta posição, na 13ª edição do Campeonato Africano de Ciclismo Continental, que contou com a participação de 60 países e decorreu em Casablanca, nos Marrocos, em 2017. 

Pronto para pedalar na Europa

Agora, com o contrato profissional, Quedutar sente-se preparado para começar a primeira época na Europa. "Sinto que estou mais bem preparado agora para competir ao mais alto nível. Porque aqui vejo que tenho melhores condições, as que sempre sonhei ter na carreira profissional. Prometo levantar a bandeira do meu país bem alto nesta equipa."

O ciclista guineense, que ainda treina num centro de alto redimento em Portugal, quer ganhar dinheiro e conhecimento na Europa para desenvolver a modalidade no seu país de origem, criando um centro de formação profissional na vila de Nhacra, onde nasceu.

O presidente da Federação de Ciclismo da Guiné-Bissau, Sabino Nhassé, disse acreditar na afirmação do atleta a nível internacional porque sempre foi o melhor do país e demonstrou sempre ser competente na prova africana.

Quedutar assinou um contrato de um ano renovável com o clube espanhol de Guerciotti-Kiwi Atlântico e tornou-se no primeiro ciclista da Guiné-Bissau com contrato profissional na Europa. Feito histórico para um país com cerca de 50 ciclistas, conta ainda Sabino Nhassé.

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